Uma estória palerma sobre papéis, o Panamá e a Praia da Rocha.
- Estou sim? É do Panamá? Ora ainda bem que o apanho, olhe antes de mais diga-me uma coisa, isso fica onde? É para lá das Berlengas, não é? … Pois…na América…fica um bocado fora de mão para dar aí um pulinho antes da hora do jantar, vai ter mesmo de ser pelo telefone...
- Estou sim? É do Panamá? Ora ainda bem que o apanho, olhe antes de mais diga-me uma coisa, isso fica onde? É para lá das Berlengas, não é? … Pois…na América…fica um bocado fora de mão para dar aí um pulinho antes da hora do jantar, vai ter mesmo de ser pelo telefone...sabe estou a ligar pelo seguinte, estou aqui em Portugal e soube pela TV que vocês são muito fortes ao nível do esconder o dinheiro que deveria ir para impostos e como isto está pela hora da morte e eu ando a recibos verdes basicamente desde que nasci, queria que me arranjassem para aí uma empresa fantasma ou algo do género com um nome fino e cheio de cagança para ninguém desconfiar, tipo Symphony of Boobs Inc. Ou Heavenly Cocks S.A., e assim eu podia viver à grande sem ter de cumprir com as minhas obrigações fiscais. Veja lá que eu há que tempos que ando a ver se poupo dinheiro para umas férias desgovernadas na Praia da Rocha e não tenho conseguido, só o custo da viagem com combustível e portagens equivale ao PIB de um pequeno país africano, e portanto a modos que se pudesse usar o dinheiro dos impostos para essas estravagâncias vinha mesmo a calhar, sabe como é…não… diga…desculpe, é que eu falo demais e depois uma pessoa mete-se a pensar em sonhos altos e nunca mais pára….mas diga, diga…Quanto é que eu ganho por ano? Olhe, o ano passado tirei para cima de 9.000 mil euros veja lá! Só que 25% foram para o Estado e depois ainda há a Segurança Social, portanto estamos a falar, à vontadinha, de mais de 2.000 mil euros que poderia ter arrecadado para luxos e vida louca, em vez de entregar assim de mão beijada ao erário público. Se eu ao menos tivesse sabido disto mais cedo até já tinha conseguido dar entrada para um Renault Clio seminovo a gasóleo de 2003 só com 190 mil quilómetros que vi no outro dia à venda no OLX, ou para uma Bimby. A minha patroa está-me sempre a dizer que nunca temos dinheiro para jantar fora e ela já anda farta de fazer sopas com o Passevite, está certo que agora há outras maquinetas modernas mais em conta para fazer sopa mas uma Bimby é sempre uma Bimby, sempre manda outro sainete quando trago amigos cá a casa para comerem sopa, sabe como é…Ai desculpe, cá estou eu outra vez a divagar, nem estou a deixá-lo falar…Diga… Ai não é assim que funciona? Então?...Tenho de ser um empresário, uma celebridade ou um político cheio de dinheiro pronto a querer desaparecer para a coisa se dar? Ora bolas, mas isso não tem sentido nenhum, sabe? Essa rapaziada já tem dinheiro a montes, para que é que eles querem mais? Olhe que não o podem levar para a cova, digo-lhe já, portanto mais valia ser empregue em construções de escolas, hospitais, teatros, um sistema nacional de saúde e de educação como deve de ser e uma estrada até ao Algarve sem portagens para um gajo como eu e a minha patroa podermos ir passear à fartazana até à Praia da Rocha, mas isto sou eu que não percebo nada de alta finança atenção... Bom, é pena… Sendo assim não lhe roubo mais tempo, a conversa já vai longa e estas chamadas de longa distância dão-me cabo do pouco dinheiro que tenho na conta, devia ter ligado pelo Skype, é o que é… Vá, continuação de um bom trabalho por aí e não se esqueça de agradecer à malta que mandou esta papelada toda cá para fora para a gente poder continuar a achar uma graça do caraças ao mundo em que vivemos. Agora tenho de desligar que a sopa já está na mesa.
Uma estória palerma sobre papéis, o Panamá e a Praia da Rocha.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A escola é um espaço seguro, natural e cientificamente fundamentado para um diálogo sobre a sexualidade, a par de outros temas. E isto é especialmente essencial para milhares de jovens, para quem a escola é o sítio onde encontram a única oportunidade para abordarem múltiplos temas de forma construtiva.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.