Há umas três semanas tive acesso a uma projeção eleitoral esclarecedora. Não foi uma sondagem à boca das urnas, mas à boca da bica. Passava a pé num bairro histórico de Lisboa, onde o imobiliário está acima dos 6.600 euros por metro quadrado, quando notei numa rapariga jovem a encher baldes de água num fontanário público. Vive num prédio ali ao lado, em tal estado de degradação que a canalização não funciona. Tem de vir à fonte, como há 200 anos. A senhoria está a tentar expulsá-la para revender o prédio. Os vizinhos antigos já se foram, substituídos por grupos de migrantes da Ásia Oriental (Índia, Paquistão, Bangladesh) que dormem aos seis, sete ou oito por quarto.