Sábado – Pense por si

Carlos Neto
Carlos Neto Professor Catedrático (Aposentado e Jubilado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa - FMH-UL)
05 de abril de 2024 às 08:18

Vamos voltar a conectar as crianças com o mundo real

São necessárias estratégias práticas e acessíveis que incentivem uma desconexão saudável, promovendo o bem-estar digital e por outro lado, o bem-estar psicológico e físico das crianças, essenciais para um crescimento equilibrado e harmonioso.

Estamos progressivamente a ser inundados de informação, encharcados de dispositivos digitais em todo o lado, mas por outro lado famintos de sabedoria. Vivemos o nosso corpo na ponta dos dedos, ao alcance de um botão, com acesso a uma conexão com todo o mundo cheio de coisas, acontecimentos, notícias e pessoas, mas acabamos por cultivar a solidão e uma cultura egocêntrica nas nossas existências. Os seres humanos foram capturados e manipulados de forma subtil, sem muitas vezes terem consciência de si, vivendo num tempo à pressa, sem capacidade de parar, refletir, pensar de forma critica, vida sem profundidade e baseada numa produtividade de sobrevivência e numa violência de pandemia digital. Estes estilos de vida dos adultos atingem as primeiras idades de forma inevitável, aumentando de forma muito significativa as percentagens de sedentarismo infantil com graves consequências para a sua saúde física e mental. O custo total dos problemas relacionados com a saúde mental é superior a 4% do PIB, ou seja, 600 milhões de euros por ano nos 27 países da EU. A percentagem de crianças e jovens que apresentam sintomas de depressão em Portugal e nos restantes países da EU, mais que duplicou durante e após a pandemia. Relativamente à obesidade infantil, prevê-se um crescimento de 3.5% ao ano, elevando a percentagem de crianças obesas para 24% em 2035. Notícias muito alarmantes para uma condição com uma muito estreita relação com doenças cardiovasculares, metabólicas e cancro (World Obesity Atlas, 2023). Segundo a indicação de relatórios recentes da Organização Mundial de Saúde, devemos definir e organizar soluções governativas para a atividade física para os próximos anos, e que passam por estratégias de prevenção da saúde pública, implicando a criação de sociedades ativas, sistemas ativos e ambientes e pessoas ativas. É urgente pôr os corpos a mexer de forma regular, sistemática e intencional, através do aumento de atividades motoras, lúdicas, desportivas e artísticas.

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