Família necessita de mais tempo para brincar com os filhos
O que tem vindo a acontecer em muitas famílias é a escravização ao trabalho com horários muitas vezes indignos e desregulados que fazem das crianças vítimas de pais sem tempo, fazendo que as crianças passem muito tempo numa escola a tempo inteiro.
A harmonização entre o tempo de vida familiar, o trabalho dos pais e a vida das crianças no contexto escolar, constitui um direito fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e com mais qualidade de vida. Esta estabilidade e sobrevivência da família, implica a existência de políticas sólidas na definição de horários de trabalho compatíveis com as necessidades de crescimento e desenvolvimento dos seus filhos em diversas idades e contextos de vida. Uma política laboral consistente e amiga das famílias, constitui um alicerce fundamental para uma boa saúde relacional das crianças e um acompanhamento dos seus percursos de vida, visando a conquista da sua autonomia plena como cidadãos ativos e intervenientes na sociedade. Ainda verificamos na Sociedade Portuguesa a existência de pobreza infantil e em muitos casos exclusão social. Cerca de 2 milhões de cidadãos ainda vivem em situação de precariedade, atingindo os menores de 18 anos e principalmente as mulheres os desempregados e os que apresentam um nível de escolaridade mais baixa. Esta situação pode ser constatada em diversas regiões do país e representa um grande sofrimento pessoal e coletivo das famílias e crianças, que podem marcar de forma muito significativa os seus percursos de vida, as suas memórias e as dificuldades de sucesso futuro na vida laboral e social. Está em causa uma reflexão mais profunda e não interesseira de terceiros, sobre a redução das desigualdades sociais e os direitos consagrados a uma vida de trabalho digno, com justos salários, condições adequadas de vida laboral com qualidade, proteção, saúde e segurança. Interessa também pensar no aperfeiçoamento da atratividade das diversas profissões e promover satisfação e prazer na sua função de colaboração na produtividade da sociedade em qualquer contexto. As famílias necessitam de horários de trabalho adequados e suficientemente flexíveis, para terem tempo para as suas tarefas de organização pessoal e tempo apropriado para aos seus filhos poderem brincar em casa ou no exterior e deste modo poderem viver a sua infância de uma forma estável. A falta de tempo dos pais para os filhos é uma das maiores tragédias do nosso tempo, em que todos vivem a correr, em exaustão, em superficialidade, precariedade e com dificuldade em tomarem consciência como esse estilo de vida está a afetar o desenvolvimento dos seus filhos. Ser criança implica tempo, disponibilidade, afeto, vivência de experiências diversificadas, organização de tarefas quotidianas, gestão do tempo de vida escolar e muitas outras formas de atenção para as particularidades da personalidade de cada um dos filhos. A formação parental tem que ser amiga da criança, sem ser permissiva ou demasiadamente autoritária, vivendo com regras participadas por todos em harmonia e de forma saudável. O tempo de ser criança implica a existência de tempo para ser pai disponível e atento às necessidades e cuidados dos seus filhos. O que tem vindo a acontecer em muitas famílias é a escravização ao trabalho com horários muitas vezes indignos e desregulados que fazem das crianças vítimas de pais sem tempo, fazendo que as crianças passem muito tempo numa escola a tempo inteiro, passando muitas vezes 7 a 10 horas por dia em atividades curriculares e extracurriculares. Existem crianças que têm agendas de trabalho superiores aos pais. A criminalização do tempo escolar passado pelas crianças na escola é uma consequência das condições impostas de trabalho aos pais, que numa grande quantidade de casos necessitam de condições financeiras para a sua sobrevivência familiar (alimentação, habitação, inflação, saúde, transportes, etc.). A recente decisão de gratuitidade das creches é uma decisão politicamente correta que poderá resolver muitas situações de dificuldade de gerir a vida dos filhos, devido às exigências colocadas nas horas de trabalho dos pais. Já não será aceitável que o impacto dos horários de trabalho desregulados na vida das famílias, possam alterar os ritmos de vida destas crianças nestas idades, colocando-as muitas vezes na creche em horas determinadas pelos interesses das entidades empregadoras em atribuir trabalho por turnos ou não atender às necessidades de maternidade e paternidade. Esta situação pode ser observada em muitas empresas e em especial em Centros Comerciais que trabalham aos domingos e feriados, obrigando muitos trabalhadores a prescindirem de ter tempo para os seus filhos. Creches para crianças das 17.00 às 24.00 horas? Creches 24 horas por dia? Como se pode aceitar esta realidade de crianças viverem com ritmos de sono, alimentação, cuidados de saúde e ausência de contacto afetivo com os pais por trabalharem em horários desregulados e indignos? Quais as consequências para um desenvolvimento aceitável e correto para estas crianças, quando se sabe pelos dados das neurociências que os primeiros anos de vida são fundamentais para o seu neuro-desenvolvimento e amplitude neurológica a par de uma evolução essencial de natureza percetiva e motora? Onde está a dignidade das situações de trabalho dos pais e o impacto negativo que tem para o desenvolvimento das crianças? As crianças e as famílias têm direitos que devem ser respeitados em sociedades consideradas democráticas no combate à descriminação e exclusão social. As leis são boas se forem implementadas com justiça e com políticas públicas sólidas, garantindo que famílias e crianças tenham uma vida quotidiana saudável e em formas de participação cívica adequadas às suas necessidades e ambições de uma vida digna.
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