Trump defende um conservadorismo protecionista e nacionalista, enquanto Milei é um liberal clássico - libertário, defensor do livre mercado e do comércio global.
Durante anos, a imprensa portuguesa ignorou o socialismo que destruiu a economia argentina. Agora, subitamente, a Argentina tornou-se atrativa para a cobertura mediática e Javier Milei tem sido retratado na imprensa portuguesa como um "Trump argentino".
É verdade que os dois Presidentes são outsiders do sistema político e partilham algumas semelhanças nas suas batalhas culturais. No entanto, as diferenças entre os dois líderes na forma como encaram o papel do Estado, no campo económico e nas promessas que fazem aos eleitores são substanciais.
Trump defende um conservadorismo protecionista e nacionalista, enquanto Milei é um liberal clássico / libertário, defensor do livre mercado e do comércio global.
Trump acredita que o governo deve "proteger" a economia através de tarifas, subsídios e controlo centralizado, decidindo quais as indústrias a apoiar ou proteger e bloqueando investimento externo. Por outro lado, Milei rejeita a ideia de que um governo iluminado sabe o que é melhor para as pessoas ou empresas, defendendo que o mercado, baseado em trocas voluntárias, é não só mais justo como também mais eficiente.
Trump governou com défices orçamentais e não reduziu a despesa nem a dívida pública, enquanto Milei cortou 30% da despesa pública no primeiro ano e alcançou um excedente orçamental.
Enquanto Trump preferiu, à boa maneira socialista, contrair mais empréstimos, mantendo a despesa pública ao nível do período de Obama, Milei seguiu a disciplina orçamental, reduziu drasticamente a despesa pública, reduziu a inflação, eliminou ministérios e milhares de regulamentações.
Trump apresenta-se como o político salvador que resolverá todos os problemas, enquanto Milei aposta na liberdade individual.
Trump oferece soluções simplistas, posicionando-se como o único capaz de "corrigir" os problemas do país ou do mundo. Por outro lado, Milei propõe frontalmente reformas impopulares e rejeita o papel de herói. Porque a liberdade não depende de líderes carismáticos, mas de instituições e sistemas que permitam às pessoas prosperarem com a mínima interferência do Estado. Como afirmou: "Peço o voto (ao eleitor) para lhe devolver o poder de ser o arquiteto da sua própria vida."
Trump não tem uma ideologia e vai mudando de posição, enquanto Milei tem uma plataforma política clara e consistente assente na Escola Austríaca.
Trump adapta frequentemente as suas políticas às circunstâncias, muitas vezes de forma contraditória, certamente por pressão de sondagens e da sua equipa de campanha. Milei mantém-se fiel ao seu plano baseado nos princípios da Escola Austríaca de Economia, sendo comum ouvi-lo citar Hayek, Mises ou Rothbard.
Trump defende um Estado maior e expansionista, enquanto Milei quer um Estado pequeno, descentralizado e em paz.
Trump insinuou esta semana assumir o controlo do Canadá, da Gronelândia e do Canal do Panamá, não recusando a possibilidade de usar força militar e pressão económica. Este discurso está mais próximo do regime russo sobre Ucrânia ou do chinês sobre Taiwan do que dos seus parceiros ocidentais. Já Milei defende a ordem ocidental baseada na liberdade, no comércio e no respeito pela soberania dos outros países.
Trump critica o sistema, mas não pretende mudá-lo, enquanto Milei quer transformar o modelo de Estado.
Trump foi Presidente e não mudou o "sistema", apenas quis e quer ocupar o Estado com os seus mais próximos. Milei, por sua vez, quer colocar o Estado numa dieta rigorosa e descentralizar o poder para as comunidades e para as pessoas.
Para um liberal, a escolha entre Trump e Milei é simples: Trump promove o controlo estatal disfarçado de patriotismo; Milei aposta em menos Estado e mais Liberdade. Milei precisa de Trump como aliado mundial em questões comerciais e financeiras – até para melhorar a relação com o FMI - mas as suas visões políticas são incompatíveis. Seria útil que a imprensa portuguesa começasse a analisar Milei pelo que ele realmente faz, e não por associações simplistas a Trump.
Se Milei influenciará os Estados Unidos, ainda não sabemos. No entanto, sinais já começaram a surgir, como o anúncio de um "Departamento de Eficiência Governamental" nos EUA liderado por Elon Musk e Vivek Ramaswamy, inspirado em parte pelas ideias de Milei. Na Ásia, o ministro japonês Masaaki Taira também já mostrou interesse em aprender com as reformas argentinas.
Portugal deveria olhar para este exemplo e adotar medidas de desburocratização e liberdade económica. Precisamos urgentemente de reduzir o peso do Estado para crescermos economicamente. Por isso, esta coluna terá o nome de "Afuera" – um slogan de Milei relativamente às várias áreas em que o Estado deve saltar "fora".
Trump defende um conservadorismo protecionista e nacionalista, enquanto Milei é um liberal clássico - libertário, defensor do livre mercado e do comércio global.
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