Supermães
O estudo "As mulheres em Portugal, hoje" da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostrava que cada novo papel que a mulher acrescenta à sua vida implica uma diminuição do tempo que dispõe para si própria, e que com a chegada de filhos, reduz-se a participação do pai nas tarefas domésticas, ficando a anos-luz do que a mulher tinha idealizado.
Ainda não sou mãe, mas sou filha. Acredito que ser mãe seja difícil. Afinal, mesmo com os progressos que foram sendo feitos, as mulheres ainda são penalizadas por serem mães. Não quero com isto dizer que a maternidade seja o mais esgotante da vida de uma mulher, mas antes a acumulação das suas responsabilidades, que são muitas e diversas.
Em 2019, o estudo "As mulheres em Portugal, hoje" da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostrava que cada novo papel que a mulher acrescenta à sua vida implica uma diminuição do tempo que dispõe para si própria, e que com a chegada de filhos, reduz-se a participação do pai nas tarefas domésticas, ficando a anos-luz do que a mulher tinha idealizado. Como resultado, só 42% das mulheres inquiridas estavam felizes, de acordo ou acima das suas expectativas com a vida.
Hoje, para muitas mulheres, ser mãe continua a ser gerir o trabalho invisível da vida doméstica, desde as compras, os recados de casa e as limpezas, lavar a roupa e a louça, passar a ferro e cozinhar, repetidamente, numa lista de tarefas diárias que não se esgotam e que obrigam ao desmesurado esforço físico e psicológico.
Continua a ser organizar a vida profissional, combatendo os obstáculos e as desigualdades em termos de oportunidades de emprego, progressão na carreira, salário, formação, que surgem em grande parte com o nascimento do primeiro filho. Com a chegada de um bebé, o pai tem reforço de rendimentos e a mãe tem maior desvantagem salarial. A mulher pondera sobre o momento certo para partilhar a notícia com a chefia, somando-se pesadelos sobre as expectativas profissionais, já o homem recebe uma festa no trabalho quando a gravidez é anunciada.
Para muitas mulheres, ser mãe continua a ser cuidar dos filhos e desdobrar-se na vida de mãe. Ao adivinhar o que se passa no âmago de um filho e tendo o dom de fazer desaparecer todas as dores com um simples beijinho. Ao ser responsável por levar a criança ao médico, à natação e às festas de aniversário, por marcar presença nas reuniões de pais e por ir buscar os filhos à escola quando estão doentes. Por acompanhar o conjunto de transformações da adolescência e da entrada na vida adulta, com o coração de mãe a bater de forma acelerada, seja pelos desafios vividos ou pelas conquistas alcançadas.
Continua a ser tudo isto – trabalhar, dar colo, educar e proteger - sem quaisquer folgas, momentos de descanso ou direito a faltas justificadas. Porque se chama por ela, a qualquer hora, seja de dia ou de noite, e a ela se exige o que não se impõe a outros. Certo é que as mães cuidam de nós incansavelmente, mas a sociedade ainda não aprendeu a retribuir essa mesma atenção e dedicação às mães.
Por isso, não é difícil de compreender que há mulheres que gostariam de ser mães e que adiam essa decisão pela dificuldade em ultrapassar todas estes barreiras. A boa notícia é que a discrepância entre o número médio de filhos desejados, estimado em 2,15, e os atuais 1,43 é uma oportunidade para, com as políticas públicas certas, efetivar o aumento de nascimentos num País de supermulheres, mas que precisa – como todos sabemos – de mais mães e de mais bebés. Portugal necessita de valorizar e proteger as mulheres e de uma estratégia nacional para a natalidade, que responda às diferentes necessidades ao longo do ciclo de vida das crianças e progenitores. É este compromisso que deve ser assumido neste dia.
Hoje é o Dia da Mãe, e há mimos, presentes e pequeno almoço na cama. Não há louça para lavar, nem casa para arrumar. É dia de descanso, bem diferente dos restantes dias do ano e que não chega para atenuar as desigualdades e o cansaço acumulado. (Obrigada, supermães). Ainda assim, a mãe apresenta-se de sorriso meigo e braços abertos, sem se desequilibrar, queixar ou zangar por lhe exigirem o ininterrupto papel de supermulher. Cabe a cada um de nós proteger e cuidar das mães. As mães têm de cuidar de si e nós temos de cuidar das mães, num ato de amor e respeito para com elas e para com os filhos delas, e pelo legado que queremos deixar às novas gerações. Para que as mulheres possam viver mais felizes, mais leves, mais realizadas, mais independentes, e com mais qualidade de vida não só no primeiro domingo de maio, como em todos os dias do ano.
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