Sábado – Pense por si

Ana Bárbara Pedrosa
Ana Bárbara Pedrosa
21 de maio de 2024 às 09:30

Leitores obcecados com o espelho

Sempre me pareceu que a literatura era essa coisa mágica que consistia num movimento de expansão. Mas, nestes últimos anos, tenho visto demasiadas vezes uma tendência para a transformarem numa coisa tão parca que não serve para nada senão para dar razão.

Passei muitas horas trancada no meu quarto. Era ali que, passando de criança a adolescente, metia os olhos nos livros e começava a ser outras pessoas. E era coisa de fábula, aquilo de ter encontrado um objecto que me tornava impossível de conter. Para mim, a literatura foi sempre isso: a possibilidade de ir a tudo, ser tudo, pensar tudo, sentir tudo. Claro que, na vida de todos os dias – essa em que pode haver consequências trágicas –, nunca fui Maria Eduarda a meter-se na cama com o irmão e nenhuma paixão doida me deu o triste fim doWerther. Mas, como os lia, era como se os vivesse. Várias vezes me deitei para dormir a sentir uma culpa que tinha vindo de outras mãos. Se Bovary traía o marido, e se eu a ler era Bovary, como é que a traição não era também minha?

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