Há uma década que Donald Trump domina a vida política americana através de uma vastíssima legião de seguidores que define o debate ideológico, molda as políticas públicas e baliza os comportamentos da classe política. Diz-se que a sua inusitada, musculada retórica cavou divisões colossais na sociedade e degradou as normas democráticas. Em parte, é verdade. Mas também não deixa de ser verdade que o bilionário nova-iorquino não tem sido o único a demonizar os seus adversários e a promover a tribalização política que agora alastra pelo país. Convém recordar que, já em 2016, Hillary Clinton descrevia os apoiantes de Trump como um "cesto de deploráveis" e Barack Obama acusava-os de estarem "apegados às suas armas e religião". Uma vez que a polarização – e a tribalização – tem sido promovida tanto pelos Republicanos como os Democratas, a saída de Trump da cena política, por si só, não será suficiente para pôr termo à crise da democracia americana.

A grande crise da democracia americana

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