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"Só tive tempo de dizer aos meus filhos para fugir para o mar"

26 de julho de 2018 às 13:56

Emoção e alívio dos proprietários de casas em Mati que começaram a fazer as limpezas do que restou dos imóveis.

Três dias apenas depois dos incêndios que devastaram a povoação de Mati, a 30 quilómetros de Atenas, alguns proprietários já começaram os trabalhos de limpeza e de demolição das suas casas, algumas das quais completamente destruídas.

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Mati incêndios Grécia
Foto: LYGREECEDRONE/via REUTERS
Mati incêndios Grécia
Foto: LYGREECEDRONE/via REUTERS
Mati incêndios Grécia
Foto: EPA/YANNIS KOLESIDIS
Mati incêndios Grécia
Foto: EPA/YANNIS KOLESIDIS
Mati incêndios Grécia
Foto: EPA/YANNIS KOLESIDIS
Mati incêndios Grécia
Foto: EPA/YANNIS KOLESIDIS

Apesar de estar entre duas casas que ficaram intactas, a habitação de família de Evaggelia P. foi destruída pelas chamas, restando apenas as paredes exteriores de tijolo e cimento.

Esta manhã logo cedo, um homem removia e carregava o entulho e o que restava de janelas para um contentor no exterior, enquanto a ateniense, que não quis dar o sobrenome, observava do exterior, nervosamente.

"Estou muito emocionada, chorei como um bebé quando soube. Passávamos aqui os nossos verões, Natais, Páscoa ou fins-de-semana. Tenho muitas memórias deste sítio", confiou à agência Lusa.

O pai, idoso e doente cardíaco, não tem conhecimento do grau de destruição da casa com seis quartos e Evaggelia quer adiantar o processo, aguardando o contacto das autoridades.

"Espero que haja dinheiro para nos ajudar na reconstrução", referiu, mostrando-se incrédula pelo facto de as casas mais próximas não terem sido afectadas.

Aliviado, o vizinho do lado, Panaiodis Apalodimas, de 59 anos, tem uma explicação: a sua moradia de dois andares tem o telhado sobre uma placa de cimento e portadas das janelas em metal que não inflamaram, ao contrário das construções com vigas e janelas de madeira.

Residente em Mati em permanência, assistiu pessoalmente à velocidade com que o fogo avançou sobre as casas pelas 18h30 de segunda-feira.

"Só tive tempo de dizer aos meus filhos para fugir para o mar. Vi aquele grupo das 26 pessoas que morreram, mas eu encontrei um caminho e continuámos a nadar até escapar do fumo. Só fomos salvos por barcos às 23 horas", relatou.

Esta quinta-feira, apesar de uma irritação na garganta e nos olhos, começou a remover algum lixo e sujidade acumulados no exterior da casa, que está habitável, embora a electricidade só deva estar restabelecida dentro de 15 dias e o serviço de água reposto na próxima semana.

O ministério grego das Infraestruturas informou que, de um total de 2.489 edifícios analisados por 340 peritos do ministério, 1.218 (48,93%) foram declarados inabitáveis e os restantes 1.271 (51,07%) foram considerados habitáveis.

Evánguelos Burnús, presidente da Autoridade Municipal de Rafina-Pikermi, os edifícios analisados constituem apenas 65% de todas as habitações da área, na maioria usadas para lazer por habitantes de Atenas.

Cia, uma engenheira mobilizada para fazer este levantamento, disse a jornalistas em Mati que o processo é feito classificando as casas usando um sistema cromático, em que são assinalados a amarelo os imóveis com mais estragos e a verde aqueles sem danos.

"Nós registamos em formulários especiais os estragos que existem para que possam encurtar o processo de licenciamento necessárias para as obras de reconstrução", adiantou.

Andreas Georgiou, de 55 anos, também residente em Mati, acredita que a sua propriedade, que valoriza em cerca de 100 mil euros, tenha sofrido danos de 20 mil a 30 mil euros, tendo perdido bens como equipamento eléctrico e mobiliário. "Muitas destas casas são ilegais, não vai ser fácil receber apoios", confessou.

O governo grego, que já tinha desbloqueado uma verba de 20 milhões de euros destinada à ajuda imediata e a cobrir as necessidades das zonas mais afectadas, anunciou na quarta-feira um pacote de medidas. Os proprietários de edifícios afectados vão beneficiar de isenção do imposto sobre imóveis. Famílias que tenham sido afectadas pelos incêndios vão receber um subsídio de 5.000 euros, valor que sobe para 6.000 no caso de famílias com mais de três crianças, enquanto empresas vão receber até 8.000 euros.

Os fogos de segunda-feira em Mati, um bairro associado à vila de Rafina, e nas proximidades causaram pelo menos 82 mortos e quase duas centenas de feridos, dos quais 70 continuam hospitalizados, alguns em estado crítico.

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