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Porteira portuguesa é "um talento" na lista das municipais em Paris

14 de março de 2020 às 10:27

"É uma boa experiência poder encontrar pessoas diferentes, poder também estar a par da política e como se forma tudo isto", diz Lourdes Fernandes, que conhece pela primeira vez os bastidores da política.

Lourdes Fernandes, porteira portuguesa no 17.º bairro de Paris, considera que a campanha "está a ser uma boa experiência" e o autarca que a convidou para a sua lista de recandidatura diz que ela é "um talento" do bairro.

"Reparei nela porque ela já era muito ativa na vida do bairro através da sua atenção aos outros, como porteira, mas criou também a maior festa dos vizinhos de Paris. Eu quis que este talento do 17.º bairro fizesse parte da nossa equipa", afirmou Geoffroy Boulard, autarca do 17.º bairro e recandidato, em declarações à agência Lusa.

Com as eleições de 15 de março a aproximarem-se, a equipa de Boulard e de Lourdes Fernandes não tem tempo a perder. O 17.º bairro é o segundo maior de Paris, com cerca de 168 mil habitantes, o que equivale a uma cidade de tamanho médio em França.

A campanha faz-se também nos múltiplos mercados e foi num deles que a Lusa encontrou Lourdes Fernandes. Nem sempre há muita abertura para a distribuição de panfletos, mas alguns transeuntes aceitam o papel e as explicações da portuguesa sobre o candidato que apoia.

"É uma boa experiência poder encontrar pessoas diferentes, poder também estar a par da política e como se forma tudo isto", diz Lourdes Fernandes, que conhece pela primeira vez os bastidores da política.

A coordenação da campanha surpreende-a e diz que "há equipas no terreno em todo o lado". E o facto de ser porteira não a intimida no contacto com os parisienses.

"Muitas pessoas dizem: 'uma porteira candidata na lista do autarca?'. E depois há outras pessoas que dizem que não estão nada surpreendidas porque me conhecem", explica.

Lourdes Fernandes chegou a França aos 15 anos e fez do seu prédio "uma família". Em 2015, quis expandir essa experiência e criou uma das maiores festas dos vizinhos da capital francesa na sua rua, onde chegam a marcar presença mais de 1.000 pessoas.

Mas não só. Assinala à autarquia sempre que há alguma coisa fora do sítio, interage com as pessoas mais velhas do bairro e é voluntária na Câmara Municipal para sessões de dança ou de cinema.

É por isso que, caso seja eleita, Lourdes vai trabalhar na área da solidariedade. "Vou ter, com um adjunto, a delegação da solidariedade. Vou desenvolver a solidariedade de proximidade e criar mini-bairros, como aldeias dentro do meu bairro. É isso que já faço", conta.

Para o atual autarca em busca de reeleição, mesmo sendo de direita e estando na lista de Rachida Dati - principal concorrente da socialista Anne Hidalgo à Câmara de Paris - a intenção era de integrar independentes na sua lista.

"Na minha lista há 40% de pessoas que não fazem parte de partidos políticos e querem é um projeto para o seu bairro. Estou muito feliz que a Lourdes Fernandes faça parte da nossa lista porque ela encarna essa vida de bairro [...] e isso é a alma de Paris", indica Geoffroy Boulard.

Lourdes Fernandes gostava de ver mais portugueses a participar neste processo. 

"Eu acho que os portugueses fazem muitas coisas entre eles. E isso não é muito bom. Vivemos todos juntos em França e já somos quase mais franceses que portugueses, a geração mais antiga. E devíamos ser mais abertos", sublinha, afirmando que acredita que o facto de se candidatar já vai levar alguns portugueses às urnas no 17.º bairro.

Mesmo se algumas pessoas não hesitam em aproximar-se do autarca e da sua equipa na rua para falar sobre problemas ou fazer perguntas sobre a campanha, a pandemia de Covid-19 faz com que estas eleições sejam vividas de forma diferente, com cumprimentos de cotovelos ou pés, ou um sinal com a mão.

"O coronavírus perturba a nossa campanha, as pessoas reúnem-se menos e não podemos cumprimentá-las fisicamente. E em França, nós gostamos muito disso. Tivemos um Presidente que era verdadeiramente apegado a isso, Jacques Chirac, e acho que ele ficaria mortificado caso não pudesse ir ao encontro das pessoas", comenta Boulard.

Mas o vírus não impede a realização das eleições que têm a primeira volta já no domingo e a segunda volta em 22 de março.

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