Secções
Entrar

Parlamento russo aprova lei que proíbe mudança de género

Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira 16 de julho de 2023 às 16:45

O governo russo tem aproximado a Igreja e o Estado, sendo que as pessoas que promovem “relações sexuais não tradicionais" podem ser condenadas a multa de quase quatro mil euros.

A Duma, câmara baixa do parlamento russo, aprovou, na sexta-feira, uma nova lei que proíbe a cirurgia de mudança de sexo e que proíbe a mudança de género nos documentos oficiais. O projeto de lei necessita da aprovação da Câmara Alta e do presidente, Vladimir Putin.

Protesto LGBT na Rússia Reuters

Num telegrama, o presidente da Duma, Vyacheslav Volodin, afirmou que o projeto de lei vai "proteger os nossos cidadãos e as nossas crianças" e considerou a cirurgia de redesignação sexual um "caminho para a degeneração da nação".

"Somos o único país europeu que se opõe a tudo o que está a acontecer nos Estados Unidos, na Europa e que faz tudo para salvar as famílias e os valores tradicionais", disse Volodin durante o debate. Acrescentando que "não haverá futuro se não adotarmos a lei, se não proibirmos a mudança de género".

Durante a leitura final do projeto de lei foram introduzidas novas alterações. Estas consistem na proibição de adoção de crianças por indivíduos que tenham mudado de sexo e a anulação de casamentos em que uma das partes tenha mudado o sexo.

Os grupos de defesa dos direitos das pessoas LGBT+ afirmaram que a legislação teria um impacto negativo na saúde das pessoas a quem é negado o acesso a cuidados de saúde. "Trata-se de uma lei absolutamente fascista, que priva as pessoas de cuidados médicos e de quaisquer direitos humanos básicos", afirmou Yan Dvorkin, diretor da Center T, organização que apoia as pessoas transgénero russas.

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, procurou acabar com as preocupações dos ativistas contra o projeto de lei, ao afirmar que algumas das suas questões eram "talvez excessivas". Yulia Alyoshina, a única política russa abertamente transgénero, acusou o governo de tentar "reprimir este pequeno grupo, que já é discriminado e estigmatizado".

Esta lei marca um novo retrocesso dos direitos civis na Rússia. No ano passado foram aprovadas leis de propaganda anti-LGBT. Ao abrigo desta legislação, qualquer expressão ou representação pública da cultura LGBT+ foi proibida em espaços públicos. A punição por "propagandear relações sexuais não tradicionais" vai desde multas até 400 mil rublos (3.943 euros) para pessoas individuais e de 5 milhões de rublos (42.661 euros) para as organizações.

Nos últimos anos, a Rússia tem aproximado o Estado e a Igreja Ortodoxa. O governo promove as perspetivas sociais conservadoras da Igreja, e Putin tem afirmado que os estilos de vida LGBT+ são contrários aos valores tradicionais russos e revela-se repetidamente contra os direitos da comunidade.

De acordo com o Ministério do Interior russo, entre 2016 e 2022, quase três mil pessoas mudaram legalmente de género no país.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela