Secções
Entrar

Covid-19: Bolsonaro acusa Moro de covardia e de contrariar ideologias do governo

01 de junho de 2020 às 22:02

Segundo o presidente do Brasil, o antigo ministro da Justiça queria decretar uma medida que multasse quem não cumprisse as medidas de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, criticou, esta segunda-feira, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro por defender a detenção de quem não cumprisse o isolamento social devido à covid-19, acusando-o de covardia e de contrariar a ideologia do governo.

"Por isso, naquela reunião secreta [ministerial, divulgada pelo Supremo], o Moro, de forma covarde, ficou calado. Ele queria ainda uma portaria que multasse quem estivesse na rua. Essa era a pessoa que estava lá, perfeitamente alinhada com outra ideologia que não era a nossa. Graças a Deus ficámos livre dele", afirmou hoje o Presidente a apoiantes, em Brasília, citado pela imprensa local.

De acordo com o chefe de Estado, Moro queria decretar uma medida que multasse quem não cumprisse as medidas de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus.

Bolsonaro referiu ainda uma portaria, assinada por Moro e pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que autorizava intervenção policial sobre pessoas suspeitas de infeção pelo novo coronavírus, de forma a obrigar a sua quarentena, e que foi revogada na semana passada.

Jair Bolsonaro, um dos líderes mais céticos em relação à gravidade da atual pandemia, tem sido alvo de duras críticas por se opor ao isolamento social para combater a propagação da doença, que chegou a classificar de "gripezinha".

O Presidente brasileiro criticou ainda Moro por alegadamente ter criado dificuldades à flexibilização de leis sobre porte e posse de armas no país.

"Vocês estão a entender um pouquinho sobre quem estava no meu lado. (...) Moro ignorou decretos meus e ignorou a lei, para dificultar a posse e o porte de arma de fogo para cidadão de bem", disse Bolsonaro a apoiantes, no Palácio da Alvorada, sede da Presidência em Brasília.

Sergio Moro pediu a demissão do cargo ministerial no final de abril, acusando Jair Bolsonaro de tentativa de interferência na Polícia Federal, na sequência da demissão do ex-chefe da instituição Maurício Valeixo.

Segundo Moro, Bolsonaro teria exigido a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro para evitar investigações a familiares e aliados.

Após as críticas de Bolsonaro, o ex-ministro e antigo juiz da Lava Jato, maior operação anticorrupção no Brasil, emitiu um comunicado em que defendeu o isolamento social e frisou que a posse e porte de armas "não podem ser utilizadas para promover espécie de rebelião armada", "como desejava o Presidente".

"As medidas de isolamento e quarentena são necessárias para conter a pandemia do coronavírus e salvar vidas. (...) Durante a minha gestão como ministro da Justiça e Segurança Pública, dialoguei com os secretários de Segurança dos Estados e do Distrito Federal para evitar ao máximo o uso da prisão como sanção ao descumprimento de isolamento e quarentena", justificou o ex-juiz.

Sobre políticas de flexibilização de posse e porte de armas, "são medidas que podem ser legitimamente discutidas, mas não se pode pretender, como desejava o Presidente, que sejam utilizadas para promover espécie de rebelião armada contra medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos", acrescentou Moro, salientando que é necessário cuidado para evitar que o armamento "destinado à proteção do cidadão" seja desviado para "criminosos".

Em relação às acusações pessoais feitas por Jair Bolsonaro, Moro considerou que "quem utiliza esse recurso é porque não tem razão ou argumentos".

Até domingo, o Brasil totalizou 29.314 óbitos e 514.849 casos confirmados de covid-19 desde a chegada da pandemia ao país, segundo o executivo.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 372 mil mortos e infetou mais de 6,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela