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A promessa da COP30, ou um “flop” na Amazónia

Tomás Guerreiro 21 de novembro de 2025 às 18:40

Com tudo para ser decisiva, a 30.ª edição da Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas foi só mais uma. O pulmão do mundo não inspirou os líderes dos 196 países a chegarem a bom porto: não há roteiro para a redução do consumo de combustíveis fósseis.

Quando Lula da Silva ressuscitou do “mundo dos mortos” e voltou ao da política internacional, o mundo parou para o ver entrar no recinto da COP27. O atual presidente do Brasil ainda não tomara posse nesse novembro de 2022, mas o povo já o havia eleito. E Lula foi à COP com uma promessa: a reversão das políticas de Bolsonaro para o pulmão do mundo e a de organizar, na Amazónia, a 30.ª edição da conferência internacional de líderes para o combate às alterações climáticas. Um vislumbre de progresso para aqueles que acreditam na urgência de escutar o pulsar da natureza.
Brasil acolhe a COP30 em Belém, na Amazónia, com foco nas alterações climáticas AP Photo/Andre Penner
Assim foi: a trigésima edição da COP decorreu esta semana em Belém, no Brasil, mas os crentes terão ficado desiludidos. Para lá dos prazos — como é já hábito desde 2003 -, as negociações entre os líderes mundiais na Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas não chegaram a bom porto até ao final previsto do evento, esta sexta-feira, 21 de novembro. Os esboços do acordo final da COP30 não são os mais animadores: a reunião albergada por Lula da Silva na Amazónia não conseguiu garantir aquele que seria o objetivo principal do evento - consenso diplomático para a construção de um roteiro de redução - e eventual fim - do consumo de combustíveis fósseis. “O texto atual não revê aquilo que seria essencial: um roteiro para terminar o consumo de combustíveis fósseis. Esse era o aspeto mais importante das políticas de mitigação no combate às alterações climáticas”, explica à SÁBADO Francisco Ferreira, cofundador da associação ambientalista ZERO, desde Belém, no Brasil. O cientista português considera que outro aspeto negativo desta COP é “a União Europeia não concordar com o aumento do financiamento para o fundo de adaptação às alterações climáticas”. Aliás, o presidente desta edição do evento, André Corrêa do Lago, avançou uma hipótese inédita para o fim desta cimeira: “Podemos sair daqui sem acordo.” “Mais do que um falhanço político, é um falhanço para a humanidade”, afirma Francisco Ferreira. E acrescenta sobre a posição política de Lula da Silva: “É bastante incisivo em termos de ação climática, mas aquilo que seria um acordo importante e relevante em termos ambientais dificilmente será alcançado nesta COP.” China, Índia e países árabes: a trilogia dos países ainda em desenvolvimento (humano, sobretudo), que consideram indesejável o desaceleramento da industrialização em prol do clima veem uma injustiça face às regiões do globo que se industrializaram sem condicionantes: Europa e Estados Unidos da América. Por causa disso, e apesar da envolvência do evento e da “forte” participação da sociedade civil, “as negociações mantêm o registo de anos anteriores”, explica Francisco Ferreira. Já sobre a intervenção de Portugal nas negociações, “é via União Europeia, não isoladamente”, acrescenta o cientista. Contudo, o país subscreveu, a par de mais 29 Estados, uma carta aberta que considera o presente texto inadmissível devido à ausência de um roteiro para a redução do consumo de combustíveis fósseis. Como todas as outras COP, quando o prazo chega ao fim, as negociações continuam por mais um ou dois dias. E, como em quase todas as outras COP, o objetivo principal fica por cumprir.
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