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Um vinho para o fim de semana: Clarete, um perfil camaleónico

Fresco e versátil, o Casa Velha Clarete é um tinto duriense que aponta a um patamar superior de qualidade - patamar esse que não se reflete no preço (€10).

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Edição de 21 a 27 de outubro
Um vinho para o fim de semana: Clarete, um perfil camaleónico
Pedro Henrique Miranda 25 de outubro de 2025 às 10:00
Os claretes são tintos com menos contacto com as 'peles' da uva
Os claretes são tintos com menos contacto com as "peles" da uva Wikimedia Commons

Se tanto se fala de "versatilidade" nos círculos do vinho, é porque realmente se trata de uma virtude cardeal, especialmente nos rótulos de consumo quotidiano. Há excelentes vinhos que se prestam a um leque de contextos relativamente limitado, e não há nada de errado com isso, mas um vinho que se adapte ao momento em que é inserido é uma verdadeira mais-valia para qualquer garrafeira.

O lugar onde se encontram estes vinhos com mais facilidade é a montra dos brancos. Muitos brancos com um pouco mais de corpo e persistência de boca (seja em virtude das castas, vinificação ou estágio) aguentam-se tão bem muito frescos num dia de verão quanto a uma temperatura mais moderada, a acompanhar um prato forte no inverno – ainda que a recomendação geral seja que quanto mais encorpados forem, menos frescos estejam.

Nos tintos, a situação muda de figura. Embora haja tintos menos encorpados que se prestem a serem bebidos mais frescos – bebemos, regra geral, os nossos tintos demasiado quentes –, isto não é necessariamente verdade para todos os tintos jovens e frutados, e, fora algumas castas mais notórias, como o Pinot Noir ou a Negra Mole, estes tintos não costumam ser facilmente identificáveis. Há, no entanto, uma exceção: se um vinho é rotulado como "clarete", é mais do que plausível que seja um tinto com esse tipo de elasticidade.

O princípio é simples: os tintos adquirem o seu aspeto e corpo através de um processo em que o mosto (o sumo da uva esmagada) permanece em contacto com as películas (a "pele" da uva), que lhe dá cor, estrutura e taninos. Vinhos brancos são, em geral, vinhos de uva branca e que não passaram por este processo (com contacto com as peles, são chamados de "brancos de curtimenta" ou o mais internacional "orange wine"), e rosés, na esmagadora maioria, não são mais do que vinhos de uva tinta com pouco ou nenhum contacto com as películas.

O que ocorre com os  – não confundir com , que vinificam uvas brancas e tintas num só vinho e costumam ser para gostos mais particulares – é que esse contacto com as películas é dramaticamente reduzido, reduzindo também os elementos mais austeros comummente atribuídos aos tintos e enfatizando as suas características mais delicadas, como o aroma, a suavidade e a frescura. O resultado costuma situar-se algures entre um tinto leve e um rosé encorpado – justamente no meio-caminho que pode ser puxado para um lado ou para o outro.

, gama de vinhos tranquilos da Adega Cooperativa de Favaios que entrega muito bom vinho para o preço que pede. Com o novo , no entanto, feito de Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional e que situa em torno dos €10, apontam a outro patamar de qualidade: um vinho suave mas de sensações intensas, pleno de aromas fumados e de frutos do bosque, chão de floresta e um toque de especiarias na boca, e que pede, atrevemo-nos a dizer, para ser consumido abaixo dos 16º normalmente recomendados para tintos.  

Casa Velha Clarete (€10)
Casa Velha Clarete (€10)

"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda.

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