Um
flashback no início desta temporada prepara para a importância que Will Byers (Noah Schnapp) conquistará ao longo deste primeiro volume da quinta temporada de Stranger Things, ou seja, os primeiros quatro episódios da última temporada deste fenómeno que conquistou o mundo em 2016 - e que chegou esta quinta-feira, 27 de novembro, à Netflix. Os restantes chegarão no dia de Natal (segundo volume, três) e o derradeiro episódio no último dia de 2025.
Sem revelar muito, a série relembra o momento em que Will foi raptado e levado para o Upside Down (a realidade paralela em
Stranger Things, cuja natureza deverá ter resposta nestes episódios finais). Era novembro de 1983 na primeira temporada; esta quinta começa no início de novembro de 1987. Como uma personagem diz a dado momento, aquando da aproximação do aniversário do rapto de Will: “não acredito em coincidências”. O espectador informado de
Stranger Things também não.
O mundo de
Stranger Things em 1987 é diferente da última vez que o vimos. Uma pequena lembrança, a quarta temporada apresentava Vecna, a criança experimental 001, ou Henry (Jamie Campbell Bower), o vilão mais vilão de
Stranger Things e que levou essa temporada para outros voos. Houve quem gostasse muito, houve quem não gostasse nada, porque era notório que a série se afastava progressivamente daquela pura energia de 2016. A quarta temporada tinha um temperamento de terror, gostava de alimentar o vilão, de elevar o terreno de alguém que se mostrava capaz de destruir tudo.
É um pouco isso que acontece a Hawkins (a cidade fictícia onde tudo se passa) no final da quarta temporada, as forças do Upside Down devastam a cidade como nunca. Em 2022,
Stranger Things terminou em
suspense: e depois? Salto para 2025, 1987 na série, alguns meses depois desse evento, a cidade vive em quarentena, com os militares presentes em todo o lado, alguns deles a viver e a estudar no lado do Upside Down. Hawkins continua a sentir-se como Hawkins e há um clima de resistência no grupo de personagens principais que recorda bem os instintos da primeira temporada.
Esse clima de resistência tem uma razão. As personagens de sempre não querem ser só uma resistência à presença militar, mas também querem tentar perceber se Vecna está vivo ou não. Então, andam à sua procura no Upside Down. Sempre que possível, entram no outro mundo a farejar pistas. Cedo irá perceber-se que o Upside Down está diferente e não é por causa da presença militar. E essa diferença é a grande dúvida que fica nestes quatro episódios: o que será que aquela estrutura (mais uma vez, estamos a ser vagos de propósito) significa?
Os protagonistas já não são crianças. Aliás, praticamente desde a segunda temporada que a série também se começou a virar muito para adolescentes (que foram ficando jovens adultos) e introduzindo-os no contexto da série. Os irmãos Duffer (Matt e Ross) quiseram com essas personagens continuar a preencher o imaginário das recordações que eles tinham - e nós - da ficção dos 1980s e povoar o imaginário de
Stranger Things com mais elementos de referência. Contudo, foi perdendo alguma da essência original e nesta quinta temporada tenta recuperá-la com a inclusão de uma série de personagens mais novas, que terão alguma relevância ao longo dos episódios. A mais importante é Holly Wheeler, a irmã mais nova de Mike e Nancy, que será chave para se entender algumas pontas soltas de informação que vai sendo lançada nos episódios.
Esses, os episódios, continuam longos. O último deste volume é praticamente um filme (à volta dos 90 minutos) e revela mais uma vez a vontade dos Duffer de explorar a ideia de pequenos filmes dentro de uma série, ideia que vale o que vale, e que pode ser entendida como tentar espremer ao máximo o que resta de
Stranger Things até se chegar à conclusão.
Se
Running Up That Hill (Kate Bush) foi a canção da quarta temporada, que se tornou num sucesso absurdo nas plataformas de
streaming em 2022, desta vez tenta-se o mesmo com
Upside Down de Diana Ross. Terá o mesmo sucesso? Duvidamos, porque parte do sucesso da canção de Kate Bush prendia-se pela importância que tinha na narrativa da quarta temporada. A óptima canção de Diana Ross parece metida ali a ferros.
Stranger Things continua a valer a pena? Sim. E estes quatro episódios fazem um bom serviço de preparar para o que vem a seguir. Não são uma minitemporada dentro de uma temporada, mas adensam o mistério de Henry/Vecna e explora-se bem as pontas soltas que existiam em volta de Will. Agora é esperar pelo Natal (e o fim de ano…).