Foi um sucesso imediato, de tal forma que assim que estreou, em julho de 2024, esgotou o Teatro Maria Matos, em Lisboa, obrigando uma reposição, meses mais tarde. Margarida Vila-Nova estava em cena, sozinha, durante uma hora e vinte minutos, a contar a história de como as vítimas de violação são tratadas na justiça. Agora volta a cena, no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, para uma data: sábado, 17 de maio.
Na peça (versão e adaptação portuguesa do monólogo Prima Facie), Margarida Vila-Nova é Teresa Correia, uma advogada que defende acusados de violência sexual contra mulheres, que acaba por se tornar uma vítima. Criada a partir de um texto da britânico-australiana Suzie Miller, À Primeira Vista confronta o espectador com a forma como as mulheres vítimas de violação são tratadas em tribunal, enquanto toca em temas como o consentimento e o poder patriarcal.
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Trailer de À Primeira Vista com Margarida Vila-Nova
Originalmente apresentado no Griffin Theatre, em Sydney, em 2019, o monólogo foi visto por Margarida Vila-Nova em Londres, onde estreou em 2022 interpretado então por Jodie Comer (que conhecerá de Killing Eve, disponível na HBO MAX). "Vi o espetáculo e achei que era muito pertinente e muito atual", contou, aquando da estreia em Lisboa, Vila-Nova, notando que a peça "não trata só o consentimento, também a forma como a lei é interpretada de um ponto de vista misógino, ou machista, e o impacto que uma experiência de sexo não consensual – uma violação – tem numa mulher, como pode transformá-la".
Filipe Ferreira
À Primeira Vista surge "ancorado no seu tratamento de um fenómeno à época extremamente candente: a globalização do movimento #MeToo, na sequência da adopção e vertiginosa disseminação do hashtag com esse nome a partir de finais de 2017, na sequência do escândalo provocado pelas denúncias de abuso sexual cometido pelo produtor cinematográfico Harvey Weinstein", lê-se em comunicado.
Segundo o mesmo, para Margarida Vila-Nova como para o encenador Tiago Guedes, "a intenção foi a de deixar de fora tudo o que se assemelhasse a panfleto e manifesto, recusando polarizações, antagonismos artificiais e maniqueístas, ou ‘cavar de trincheiras’. Temos antes uma reflexão sobre relações tóxicas e violência nas relações, sobre o consentimento (sexual), mas também sobre as vítimas que duplamente se tornam vítimas, quando confrontadas com um sistema e uma prática judicial desumanizados."
A autora do texto original, Suzie Miller, transformou já Prima Facie num romance (2023) e tem em preparação uma versão cinematográfica deste fenómeno dos palcos.