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D. Maria II: 15 estreias e 25 espetáculos em 2025, de Marco Mendonça a Ary Zara e Gaya de Medeiros

"Reparations, Baby!", nova criação de Marco Mendonça e "Corre, bebé!, da Gaya de Medeiros e Ary Zara, são dois dos destaques da programação de 2025 - o último ano com o edifício-sede ainda em obras.

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Edição de 9 a 15 de setembro
Lusa 22 de novembro de 2024 às 17:50
D. R.

O Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) vai reforçar a programação em Lisboa, em 2025, com os Jardins do Bombarda e o Teatro Variedades como principais parceiros, e manter-se em viagem por mais de 30 teatros e municípios portugueses.

No total, a programação do próximo ano vai contemplar 25 espetáculos - nove produções próprias e mais 16 coproduções -, 15 dos quais em estreia.

Em declarações à agência Lusa sobre a programação para 2025, apresentada esta sexta-feira, em Lisboa, o diretor artístico do TNDM, Pedro Penim, disse que esta assenta em "dois grandes pilares". Um deles é a presença em Lisboa no Teatro Variedades e nos Jardins do antigo Hospital Miguel Bombarda, no âmbito de protocolos com a autarquia local e com a Largo Residências, respetivamente, enquanto o edifício-sede no Rossio continuar em obras.

O Variedades, no Parque Mayer, será para espetáculos que se "demorem mais" e que, de alguma forma, possam "emular aquilo que são produções de média/grande escala", tal como aconteceria na Sala Garrett. Segundo Penim, os objetivos que a autarquia definiu para este teatro recém-recuperado servem "que nem uma luva para esta programação, que é bastante diversa, bastante eclética".

No caso dos Jardins do Bombarda, a aproximação está relacionada com aquilo que, normalmente, seria levado a cena na Sala Estúdio, e que "muitas vezes aponta" para "um caminho mais experimental", disse Penim à Lusa.

Aqui, no antigo hospital, a programação do D. Maria II será apresentada na futura Sala Estúdio Valentim de Barros, também em obras, sala de homanagem ao artista que marcou palcos europeus de dança na década de 1930, e viveu encarcerado mais de quatro décadas no hospital psiquiátrico, por causa da homossexualidade assumida. Esta sala abrirá com a apresentação, de 8 a 18 de maio, da peça As Castro, de Raquel Castro.

"Depois da experiência muito determinante e eficaz na relação com todo o território" através da Odisseia Nacional, iniciada em 2023 quando o edifício do TNDM encerrou para obras, no ano passado "tornou-se imperativo voltar a Lisboa" sem "perder esse contacto com o resto do território, porque faz parte da missão do teatro que é nacional" e não é, "nem nunca foi, só de Lisboa", argumentou Pedro Penim.

"É minha intenção que esta ideia se possa institucionalizar, que deixe de ser excecional" - esta ideia de levar programação a todo o país -, "e que passe a fazer parte do pensamento integrado da direção artística", sublinhou o diretor do TNDM.

De Marco Mendonça a Gaya de Medeiros

Desafiado pela Lusa a destacar espetáculos da programação do próximo ano, Pedro Penim não hesitou em citar Reparations, Baby!, de Marco Mendonça, que aborda a questão do pagamento de reparações pelos crimes do colonialismo cometidos por Portugal, a apresentar no Teatro Variedades de 9 a 27 de julho.

Penim referiu igualmente o regresso de Cristina Carvalhal às coproduções com o D. Maria II, com O nariz de Cleópatra, pois claro!, a partir de um texto escrito por Augusto Abelaira nos anos 1960, que considera de "uma atualidade incrível e uma dimensão política muito assinalável". A peça também estará no Variedades, de 13 de setembro a 5 de outubro.

A estreia de três espetáculos, no âmbito da participação do D. Maria II no projeto internacional STAGES (Sustainable Theatre Alliance for a Green Environmental Shift) constitui outro dos destaques do diretor artístico do Nacional D. Maria II.

São eles: As mulheres que celebram as Tesmofórias, uma criação da ativista, artista e DJ transgénero portuguesa Odete, em torno de um texto clássico de Aristófanes, de 11 a 15 de junho no Variedades; Itinerário: Geologia de um regresso a casa (título ainda provisório), de Rogério Nuno Costa, nos Jardins do Bombarda, de 29 de outubro a 2 de novembro; e Rito de transição, com texto e direção de Ritó Natálio, artista e investigador, lésbica não-binárie, a estrear-se a 3 de dezembro, na Sala Estúdio Valentim de Barros.

Corre, bebé!, espetáculo da Gaya de Medeiros e de Ary Zara, vencedor da 7.ª edição da Bolsa Amélia Rey-Colaço, é outra escolha de Pedro Penim, e estará em cena de 20 a 29 de junho, na sala Estúdio Valentim de Barros.

Uma das novidades da programação para 2025 consiste num projeto criado para o digital, com estreia online pelo realizador Jorge Jácome, que vai pensar a relação do teatro com a tecnologia. O projeto será lançado em setembro, no Variedades, no formato de instalação.

Em dezembro, e no âmbito desta parceria com a NTT Data, estrear-se-á uma criação de âmbito teatral que ao longo de seis meses vai mobilizar equipas transdisciplinares com vista à criação de "uma sinergia criativa e tecnológica, que permita a expansão do espetáculo ao vivo para territórios ainda por explorar". De acordo com Pedro Penim, "a relação entre a inteligência artificial e a reação teatral" terá lugar nesta criação.

No conjunto, a programação para 2025, segundo Pedro Penim, tenta ainda, "de alguma forma, testar este terreno menos conhecido do Teatro Nacional D. Maria II", de múltiplas expressões e múltiplos palcos pelo país, estabelecendo-se como "um prólogo para 2026 e para aquilo que se irá passar no teatro quando pudermos finalmente reabrir o edifício do Rossio".

Três espetáculos estarão em digressão internacional - Casa Portuguesa, por exemplo, irá a Santiago de Compostela, em junho - e haverá seis projetos de participação, o lançamento de oito novas edições do TNDM, três ações de formação e sessões de poesia, entre outras ações.

A programação integral para 2025 já pode ser consultada no site do Teatro Nacional D. Maria II.

Reabertura da sede em 2026

O edifício-sede do Teatro Nacional D. Maria II, fechado para obras desde 2023, deverá reabrir no final do primeiro trimestre de 2026, disse esta sexta-feira à agência Lusa o diretor artístico, Pedro Penim.

"A data que está em cima da mesa - não necessariamente uma data, mas um período - será o final do primeiro trimestre de 2026. Essa é a informação que tenho", acrescentou Pedro Penim, que falava à Lusa à margem da apresentação da programação do TNDM para o ano de 2025.

Alegando que a reabertura do edifício no Rossio depende pouco de si, por apenas "receber informação" e "tentar depois transformá-la em ação", Pedro Penim adiantou que, neste momento, as obras "estão já num ritmo e num estado bastante mais estável e mais avançado do que estiveram no passado".

"Por isso, acho que será de confiar que no fim do primeiro trimestre [de 2026], o D. Maria poderá reabrir portas", frisou.

O TNDM encontra-se em obras de requalificação desde o início de 2023, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Inicialmente, a reabertura foi projetada para 2024. Em novembro de 2023, porém, foi adiada pela primeira vez para o princípio de 2025.

Em julho último, um comunicado do conselho de administração do TNDM anunciou que, devido a atrasos na empreitada, a reabertura do teatro fora adiada por um ano, passando a estar prevista para o início de 2026.

"A complexidade de uma obra desta envergadura, num edifício histórico classificado como monumento nacional, acarreta o risco de ocorrência de imprevistos e trabalhos complementares, pelo que se estima agora a reabertura do Teatro ao público no início de 2026", lia-se numa nota enviada à Lusa, em 26 de julho último.

Localizado na Praça D. Pedro IV, o Rossio de Lisboa, o TNDM está a beneficiar de "uma profunda intervenção, que envolve a renovação e o restauro de várias áreas [...], incluindo espaços públicos, técnicos e de bastidores".

Desde o encerramento, o TNDM tem vindo a desenvolver o programa Odisseia Nacional em parceria com mais de 90 concelhos de todas as regiões de Portugal continental e ilhas.

Num relatório da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR publicado antes do novo adiamento da reabertura do D. Maria II, este organismo agravara para "preocupante" a execução do plano na área do Património Cultural. Nesta área havia sublinhados a vermelho na "apreciação preocupante", com admissão de possível prorrogação de prazos, como aconteceu com o D. Maria.

O investimento na área do Património Cultural, que dispõe de um valor global de 214,1 milhões de euros a executar até 2026, prevê intervenções em 73 museus, monumentos e palácios, no valor de 165,8 milhões de euros, em dois teatros nacionais - S. Carlos e D. Maria - e no Teatro Camões, num total de 48,3 milhões, perfazendo 214,1 milhões de euros para 76 intervenções.

O Teatro Nacional de São Carlos encerrou para obras no final de julho último, e o Teatro Camões reabriu em 17 de outubro, depois de oito meses em obras, sendo o primeiro projeto da Cultura concluído no âmbito do PRR.

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