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Cinco canções que fizeram de Gwen McCrae (1943-2025) rainha do groove

Reis e Rainhas são quem um Homem quiser - e Gwen McCrae foi monarca das pistas de dança. Eis cinco canções que garantem (ou deviam) a eternidade à cantora, que morreu com 81 anos.

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Edição de 5 a 11 de agosto
Cinco canções que fizeram de Gwen McCrae (1943-2025) rainha do groove
Gonçalo Correia 27 de fevereiro de 2025 às 18:00
GAB Archive/Redferns

Fora das monarquias e monarquias constitucionais, Reis e Rainhas são quem um Homem quiser. E Gwen McCrae foi monarca, sim, das pistas de dança e dos corações, das pulsações que acelerou com as suas batidas e canções.

A rainha da soul foi Aretha Franklin, esse trono está mais do que ocupado, mas no funk e na disco a realeza pode ir mudando consoante o dia. Hoje a rainha é Chaka Khan? Vai muito bem. Amanhã o trono é de Donna Summer? Ninguém se chateia. A seguir entronizamos Diana Ross, e depois as Sister Sledge, Tina Turner, Whitney Houston, Diana Ross, Gloria Gannor? Está tudo muitíssimo bem. Mas que ninguém esqueça "a cantora influente de funk e soul dos EUA" (e de disco, acrescentamos nós à BBC), "a grande Gwen McCrae" (elogiou o duo britânico de eletrónica Disclosure).

A cantora que "trouxe emoção à música de dança como nenhuma outra" (titulou o The Guardian) morreu no final da semana passada, com 81 anos. A notícia não fez parangonas de jornais mas o volume das suas canções ouvir-se-á sempre bem alto. Eis cinco canções que comprovam como McCrae foi um talento cintilante.

Gwen McCrae - All This Love That I'm Givin' (1979)

Não é a canção mais bem sucedida da carreira da cantora nascida em 1943 na Flórida, que nas últimas décadas foi samplada por gente como Lady Gaga, Avicii, Cypress Hill, Mobb Deep, Madlib e tantos outros, mas poucas rivalizam em intensidade e brilho enérgico. Lançada em 1979 como single, tem vindo a ser redescoberta desde que em 1999 o duo francês de house Cassius a samplou. Por outras palavras, desde que o duo pegou nas pistas vocais de McCrae no tema e levou a voz da americana para uma  nova canção. Um baile diabólico, este.

Gwen McCrae - Keep The Fire Burning (1982)

"Um hit moderado de R&B", chegou a ser assim descrito este Keep The Fire Burning. Outra canção que tem vindo a ser redescoberta graças à internet, nos últimos anos, menos fogosa mas cheia de ginga, bamboleante, um delicioso crescendo para ir abanando o esqueleto gradualmente, mais e mais, até a canção terminar e o pobre ouvinte pensar "e se a ouvíssemos outra vez?".

Gwen McCrae - Rockin' Chair (1975)

As plataformas digitais e a internet vieram definitivamente mudar a história e o prazo de validade das canções. Hoje, por exemplo, Keep The Fire Burning lidera no Spotify, destacada, em número de audições (mais de 34 milhões de plays). Nos anos 1970 e 1980,  Rockin' Chair era A canção de Gwen McCrae. Espécie de resposta a Rock Your Baby, tema que o marido George McCrae lançara pouco antes, é de uma elegância e classe difíceis de superar. Sensualidade, amor, prazer (com direito a gemidos no arranque e tudo) e calor condensados em três minutos e vinte e quatro segundos.

Gwen McCrae - 90% of Me is You (1974)

"How can I do the things I wanna do / When 90% of me is you?", pergunta Gwen McCrae nesta canção de amor e entrega, de destino atirado carris fora de tão forte é o amor? Na verdade, se atentarmos bem às letras, elas sugerem-nos que este amor de perdição é tóxico: "You control my eyes / I can see no one but you, baby / You control my mind / I can think of none but you / (...) I never thought it's possible / That I could be controlled like this". Ignoremos porém, neste momento difícil, a toxicidade que a letra sugere e fiquemos pelo som, puro e duro.

Wanna be the kind of woman that no man can loseI wanna have that kind of mind that no man can foolI wanna look you in the eyes without getting weak in my kneesWanna be able to do without youDespite all my needs
What can I do?
90% of Me Is You

Gwen McCrae - Let's Straighten It Out (1978)

Aqui, não falamos de música de dança nem de balanço de pista. Falamos, isso sim, do groove do blues, de cordas sinfónicas que jogam bem com um ambiente noir de tensão. E falamos de uma versão de um tema do pianista e cantor de blues e rhythm & blues Latimore, lançado em 1974, que Gwen McCrae cantou bem antes de B. B. King (1989), Millie Jackson (1994) ou Etta James (2002). E que bem o fez: o talento vocal de McCrae revela-se aqui em todo o seu esplendor. Nota final: não deixe de descobrir também temas como Love Insurance ou Funky Sensation. Viva Gwen McCrae.

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