As inquietações de Lobo Antunes têm o tamanho do mundo
O autor de 80 anos tem um novo romance: O Tamanho do Mundo. A solidão, a velhice e os arrependimentos estão no centro das interrogações tecidas pelo autor.
Um dos mitos mais famosos da literatura contemporânea reza que Philip Roth, no dia em que se anunciava o Prémio Nobel da Literatura, se dirigia ao escritório do seu agente onde esperava, nervosamente, que anunciassem o seu nome. Nunca aconteceu. O autor deO Escritor Fantasmamorreu em 2018 sem receber aquela que é considerada pelo público em geral (e à qual a imprensa generalista dá mais destaque) a maior honra literária. Em Portugal tornou-se comum fazer piadas sobre a alegada raiva e azia que Lobo Antunes sentia (e sente) por não receber o Nobel. Imagina-se o escritor deExplicação aos Pássarosa atirar um cinzeiro ao chão sempre que descobre que não é ele o laureado com a medalha com a cara de Alfred Nobel (e a receber os 900 mil euros que acompanham o prémio) e que o mesmo foi atribuído a um escritor menos talentoso. Mas é bem provável que isto não corresponda de todo à verdade. É fácil acreditar em Lobo Antunes quando afirma que mais valioso do que todos os prémios é o elogio de um escritor que admira (particularmente o amigo José Cardoso Pires, que morreu em 1998) ou queser publicado na Plêiade é mais importante do que receber o Nobel. Mais do que o reconhecimento público, Lobo Antunes sempre se preocupou com a qualidade do que escreve e com a glória do seu nome. E com o medir da solidão através dos estalidos dos móveis.