Em Dezembro de 2015, o GPS destacou Manel Lino, então no restaurante Tabik, em Lisboa, como chef emergente, a não perder de vista. Desde então, a vida do jovem ribatejano conheceu algumas mudanças. Manel entrou nos 30, foi pai pela primeira vez, saiu do Tabik e - não necessariamente por esta ordem - lançou-se num projecto próprio, com uma proposta de fine dining: o Trio.Também este restaurante já conheceu algumas mudanças desde que abriu, no último Verão, entre o Parque Eduardo VII e a rua Artilharia 1. Deixou de servir almoços, fechou no mês de Agosto e apresentou uma nova carta, já em vigor, que cabe numa folha A4: no Trio encontramos "apenas" dois menus de degustação - não há serviço à carta. "Sempre quis ter um espaço onde pudesse ter liberdade criativa. O meu objectivo não é ser empresário, é ter total liberdade criativa na cozinha e já o queria fazer há muito tempo", conta ao GPS o chef que nos seus anos formativos passou por restaurantes de topo, como são o Mugaritz, no País Basco, ou o catalão El Celler de Can Roca. Depois explica porque saiu do Tabik: "Quando precisava de preparar uma nova carta, tinha de a apresentar aos administradores. E eles diziam 'ok, isto é o que tu queres fazer, agora vamos analisar'. E, ao analisarem, diziam 'ok, está fantástico, mas faltam hidratos de carbono ou uma opção vegetariana'." Conclusão: sentia que o limitavam. No Trio, Manel Lino arriscou fazer uma cozinha mais criativa, mas que não está, ainda assim, totalmente livre de restrições: "Estou consciente de que não posso fazer estritamente aquilo que quero, mas prefiro ser eu a limitar-me. Ao nível criativo, no prato, estou mais livre." Expressões dessa criatividade são os dois menus fixos. O mais curto, com três pratos, inclui couvert, endívia assada com creme de amêndoa e óleo de paprica, e um prato de bacalhau estugado com grão e pés de porco e gema de ovo ou de leitão com abóbora e castanha. A sobremesa é um chantili de chocolate de leite, banana caramelizada e biscoito de amendoim. Este menu, o clássico, custa €28 e por mais €15 pode ser harmonizado com uma selecção de vinhos do escanção e chef de sala, Ricardo Cavaleiro. Já o mais vasto menu Trio (€42) começa com uma brandade de bacalhau com azeitona verde e cebolinhas assadas, avança para a corvina com couve-coração e mousse de sardinha e chega à carne na forma de um naco de vitela allium, antes de atingir a meta com um cremoso de abóbora, crumble de sésamo negro e gelado de nata. Neste menu, o suplemento de bebidas custa 20 euros. Mas pode acompanhar ambos com vinhos da carta ou outra bebida qualquer. Também comum às duas propostas são os snacks, como o brioche com alheira e molho de maçã cozido ao vapor ou a merengue de beterraba recheada de iogurte grego e enguia braseada, que surgem a separar os diferentes momentos do jantar.É de fine dining que se trata, sim, mas não o colem, para já, aos melhores. "Temos clientes que gostam, mas depois comparam-nos ao Belcanto, ao Feitoria, ao Loco, restaurantes [com estrelas Michelin] com os quais ainda não podemos competir", desabafa. E continua: "Nós não temos menus de 150 euros, logo o produto não pode ser o mesmo, nem o número de pratos." As estrelas, essas, não o preocupam: "Quero chegar a esse nível, mas não me ralo se a estrela vem ou não." Trio R. D. Francisco Manuel de Melo, 36A, Lisboa 912 087 901 || 19h30-24h (fecha dom. e 2.ª) €45 (Preço médio)