O apuramento de Israel para a final do 68.º Festival Eurovisão da Canção causou divergência na Europa, com um partido representado no Governo espanhol a pedir a exclusão da representante israelita, enquanto Berlim e Paris criticaram os protestos.
Joost Klein, o representante dos Países Baixos, que manifestou na quinta-feira à noite o seu desacordo por ter sido colocado ao lado da concorrente israelita Eden Golan, foi afastado de um ensaio geral, com a organização a apontar apenas para um incidente, sem dar mais detalhes.
Perante 9 mil espetadores, Eden Golan, de 20 anos, alcançou a passagem para a final de sábado do 68.º Festival Eurovisão da Canção que decorre em Malmo, na Suécia, com o tema "Hurricane", cuja versão inicial teve de ser modificada porque fazia alusão ao ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro, que levou ao atual conflito na Faixa de Gaza.
Israel juntou-se assim aos 26 países, incluindo Portugal, que vão competir no sábado para suceder à Suécia como vencedora desta competição, que foi seguida em 2023 por 162 milhões de telespetadores.
A presença israelita foi contestada pelo partido de extrema-esquerda Sumar - cuja líder Yolanda Diaz é a número três do Governo espanhol - que lançou hoje uma petição para solicitar a exclusão do país da final.
Sumar criticou a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) por aceitar "a participação de Israel num momento em que as suas tropas exterminam o povo palestiniano e destroem toda a região". A petição somava esta sexta-feira à tarde quase 7 mil assinaturas.
Por outro lado, a ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, considerou hoje "totalmente inaceitáveis" os "apelos ao boicote contra a participação de artistas israelitas" em Malmo, numa publicação na rede social X.
"A política não tem lugar na Eurovisão", frisou também o ministro francês para a Europa, Jean-Noël Barrot, considerando ainda inaceitável a "pressão sobre os artistas".
Israel participa neste festival desde 1973 e conquistou-o pela quarta vez em 2018. Hoje, o Estado judeu estava entre os favoritos, atrás da Croácia, segundo o 'site' de apostas 'online' Oddschecker.com.
Quase 12 mil pessoas, incluindo a ativista climática Greta Thunberg, manifestaram-se esta quinta-feira contra a participação de Israel em Malmo, para onde já foi agendado um novo protesto, para sábado.
A emissora de televisão belga VRT, uma das duas que organiza a participação daquele país no concurso, interrompeu temporariamente a emissão na quinta-feira, durante a atuação de Eden Golan, condenando "as violações do estado de Israel em Gaza".
Quando a representante israelita esteve em palco durante a segunda semifinal do concurso, ouviram-se assobios, nomeadamente na parte inicial da atuação.
A neutralidade exigida pela organização do evento já tinha sido condicionada esta terça-feira pelo cantor sueco Eric Saade, que atuou com a mão esquerda envolta num 'keffiyeh', lenços que são símbolo da luta palestiniana.
O gesto foi criticado pela televisão pública sueca SVT e pela EBU, que proibiram o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky de falar durante a competição no ano passado. Este ano, o conflito na Ucrânia foi ofuscado pela guerra em Gaza.
Malmo, onde vive a maior comunidade de origem palestiniana, recebeu reforços policiais de toda a Suécia, mas também da Dinamarca e da Noruega.
"Não há ameaça dirigida contra a Eurovisão", garantiu, ainda assim, um porta-voz da polícia.
Dentro da comunidade judaica de Malmo, alguns planeiam deixar a cidade durante o fim de semana. "O sentimento de insegurança aumentou depois de 7 de outubro, muitos judeus estão preocupados", realçou um porta-voz, Fredrik Sieradzki.