Como escrevi na introdução de Canções e Outros Poemas (2008), António Botto foi sempre um caso mal resolvido. Passados quase 60 anos da sua morte, atropelado no Rio de Janeiro em 1959, surge o estudo que fazia falta: O Mundo Gay de António Botto. Não é despiciendo que Anna M. Klobucka o tenha feito - Botto foi, nos anos 1920, um percursor da poesia de inscrição homossexual. Verdade que Wilde e Gide, de tradições literárias fortes, eram lidos e alvo de controvérsia. Botto contou quase só com Fernando Pessoa, que publicou a segunda edição de Canções, escreveu ensaios em seu louvor e, por interposto Álvaro de Campos, invectivou os universitários de Lisboa por ocasião do auto-de-fé de 5 de Março de 1923 (exemplares de Canções foram apreendidos pelo Governo Civil e queimados no Rossio). Além de Pessoa, Aquilino Ribeiro foi o único a repudiar publicamente a campanha ultramontana.
Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login Para activar o código da revista, clique aqui