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A triste vida de Pete Holmes, criador e protagonista de Crashing

Disseram-lhe que uma série sobre a sua vida seria uma tragédia - na verdade, deu uma comédia. A segunda temporada de Crashing chega na madrugada de 14 para 15 de Janeiro

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A triste vida de Pete Holmes, criador e protagonista de Crashing
Markus Almeida 14 de janeiro de 2018 às 07:00

O registo biográfico e o tom autodepreciativo que Pete Holmes imprimiu aCrashing, bem como o facto de a série ter como paisagem a cena nova-iorquina dos clubes de comédia - com as suas tribos, tradições e ritos de passagem -, valeram-lhe comparações com Louie C.K. e Jerry Seinfeld. Pois bem, Pete não é o novo Louie nem o novo Jerry, mas é alguém que encontrou nas suas próprias desgraças motivos para sorrir e fazer rir, na série que criou e protagoniza e cuja segunda temporada chega ao canal TVSéries, em estreia mundial, às 3h30, de domingo, 14, para segunda, 15 de Janeiro.

No início da temporada anterior, víamos Pete Holmes enquanto comediante em início de carreira - na verdade, mais como um aspirante, cuja carreira ainda não arrancara realmente. Ele surgia desempregado, portanto, e vivia às custas da sua mulher, Jess, uma professora primária. Em cima deste cenário já de si pouco animador, Pete, que se descreve como uma "versão lésbica do Val Kilmer", tinha de tentar perceber como encaixar o seu conservadorismo cristão num meio dado a álcool, drogas, sexo e, claro, linguagem profana. Afinal, em Nova Iorque, a meca dostand-up, os comediantes são criaturas nocturnas...

Para piorar as coisas, seis anos depois de se ter casado com Jess, aos 22 anos, Pete encontra-a na cama com outro homem. Daí resulta um divórcio e, de repente, o comediante, que na série tem 28 anos, mas na vida real conta mais dez, vê-se sem emprego, sem casa e sem dinheiro, porém mais obstinado do que nunca em ser comediante.

O título da série vem daí, de Pete não ter casa e de passar as noites nos sofás (nos Estados Unidos chamam a istocrashing) dos outros comediantes com quem se vai cruzando - como Artie Lange, T. J. Miller e Sarah Silverman, que fazem o papel de si mesmos - e que acabam por se tornar amigos e mentores na complicada tarefa de Pete se estabelecer no mundo da comédiastand-up.

É um mundo que o autor da série conhece bem, já que fazstand-updesde os 22 anos. Apersona de cristão devoto que assume em palco e que é um reflexo da educação cristã evangélica que recebeu dos pais granjeou-lhe algum sucesso e a atenção do canal de televisão norte-americano TBS, que lhe ofereceu um programa desketchese entrevistas, oThe Pete Holmes Show.

Um dos convidados do programa foi Judd Apatow, produtor da sérieGirlsna HBO e autor das longas-metragens cómicasGente Gira, Virgem aos 40 Anos e Um Azar do Caraças, com quem Pete filmou umsketchque consistiu em sugerir-lhe ideias para filmes. "Há um homem. Ele tem 22 anos. Ele casa-se por ser religioso. Seis anos depois, a sua mulher trai-o com um pequeno homem italiano. Ele fica com o coração despedaçado, mas aprende lições de vida", descreve Pete nessesketch. "Isso não parece uma comédia, soa mais como uma tragédia", comenta Apatow, ao que Pete responde: "Isso é a minha vida."

Após duas temporadas, em 2014, o programa foi cancelado, mas a ideia ficou e no ano seguinte os dois venderam o projecto à HBO. A ideia não era necessariamente nova - amigos já lhe tinham dado a sugestão a seguir ao divórcio. "Na altura, não fazia comédia pessoal", explica Pete Holmes em entrevista ao USA Today. "E não estava receptivo porque gostava do Seinfeld e de humor observacional."

Contudo, quase uma década depois, Pete acha que "já passou tempo suficiente para digerir e ganhar uma nova perspectiva sobre o que se passou". Para Pete, "fazer uma série que representasse bem os dois lados de uma separação" era tão importante como mostrar ao público o que é estar a começar na comédia, já que outras séries sobre comediantes, como Seinfeld ou Louie, davam um retrato dos humoristas já lançados nas suas carreiras, esquecendo os primeiros dias.

"Acho que as pessoas não sabem que distribuímos panfletos na rua [para terem direito a alguns minutos no palco] ou que animamos o público em programas de televisão durante o intervalo ou de todos os outros trabalhos estranhos que temos de aceitar durante uma década [até terem sucesso]", diz Holmes, em entrevista à Rolling Stone. Nem de propósito, a segunda temporada começa com Pete a trabalhar numa pizzaria.

Crashing (2.ª temporada)

Tv Séries

Estreia: 2.ª, 15/1, 3h30

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