O que faz de um vinho verdadeiramente excecional, elevando-o aos mais altos escalões do mundo? Com cada vindima, o enólogo Luís Sottomayor faz esta pergunta à vinha da Quinta da Leda, vinificando a mescla de castas típicas do Douro como quem semeia, à espera que o tempo e a maturação lhe tragam os frutos desejados. Mas não é todos os anos que recebe resposta.
O estatuto lendário do Barca-Velha remete a uma altura em que o único vinho de qualidade produzido no Douro era o Porto - uma tradição e, em grande medida, monopólio britânico desde o século XVII - até Fernando Nicolau de Almeida, enólogo da Casa Ferreirinha, ter idealizado um patamar semelhante para vinhos tranquilos, até aí de consumo corrente.
O seu sucesso contribuiu para fazer do Douro uma das mais atrativas (e melhores) regiões vinícolas do mundo, e o Barca-Velha - para muitos, o máximo expoente dos tintos portugueses - um dos mais requisitados, quanto mais não seja pela sua raridade: em mais de 70 anos de história, iniciados em 1958, apenas 21 edições foram lançadas, a mais recente das quais de 2011 - até agora.
Eis que, quase nove anos depois da sua colheita, chega o Barca-Velha 2015, a mais recente edição do icónico vinho duriense, que só é um tinto “muito próximo da perfeição” porque “não há vinhos perfeitos”, diz o enólogo: uma composição sedutora e incrivelmente impactante de fruta preta, madeira e fumo, que equilibra impecavelmente o volume e a estrutura de um tinto de peso com a harmonia e a complexidade que se esperam de um grande vinho.
Valerá, perguntarão, o intimidante preço de €900 pedido por cada garrafa? É difícil dizer – a beleza está no palato do provador. Ainda assim, para referência, a garrafa de Quinta da Leda 1999 servida imediatamente antes, e que nos parecia ser um dos melhores vinhos que alguma vez prováramos, subitamente deixou de ser tão impressionante. Uma coisa é certa: no que depender de 2015, o mito do Barca-Velha teimará em persisitir.