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De professor de matemática a consultor de investimentos: a história de como Jeffrey Epstein ficou rico

Gabriela Ângelo 24 de dezembro de 2025 às 08:00

A riqueza de Epstein, vinda de esquemas e fraudes, cresceu de tal forma desde os anos 80 que antes da sua morte a sua fortuna estava avaliada em 600 milhões de dólares.

No início da sua carreira profissional, Jeffrey Epstein era um simples professor de matemática na escola privada de Dalton, em Nova Iorque, e, em poucos anos, com ajuda dos seus contactos, transformou-se num consultor de investimentos para algumas das famílias mais poderosas e ricas dos Estados Unidos. 
Jeffrey Epstein: professor de matemática, consultor e acusado de crimes financeiros AP
Uma investigação do jornal norte-americano , desvendou o segredo por detrás da fortuna de Jeffrey Epstein, quase seis anos depois da sua morte, alcançada através de esquemas, golpes e fraudes.   Ainda em Dalton um dos pais dos seus alunos apresenta Epstein a Ace Greenberg, um executivo do banco de investimentos Bear Stearns, que o contrata aos 23 anos, apesar de ter mentido e dito que se tinha formado em duas universidades da Califórnia. Nenhuma tinha ouvido falar dele e ele nunca tinha tirado uma licenciatura.  Através do Bear Stearns, Epstein entra em contacto com outros executivos e empresários como Jimmy Cayne, Michael Tennenbaum e Clark Schubach. O último apresenta Epstein a Michael Stroll, o criador de uma empresa de videojogos, que é burlado pelo predador sexual.  Stroll deu a Epstein cerca de 45 mil dólares, quase 10% do seu património líquido, para este investir num alegado negócio de petróleo bruto que Epstein disse ter planeado. Em pouco mais de dois anos o dinheiro tinha desaparecido. Este esquema marcou um ponto de viragem nos esquemas de Epstein, que já tinha demonstrado ser capaz de trair amigos e empresários que confiavam nele para gerir o seu património. Anos mais tarde Stroll vinha a partilhar que sem saber, semeou “o seu crescimento”. 

Caça fortunas e génio das burlas

Nos anos 80 Epstein apesar de ter uma namorada na altura, a ex-miss Suécia Eva Andersson, Epstein continuava a perseguir outras mulheres, especialmente com dinheiro e poder. É nessa altura que é apresentado a Ana Obregón, uma rapariga espanhola e de uma família rica.  Na altura em que se aproximou a Obregón, a corretora Drysdale Securities entrou em colapso o que levou a que a sua família, assim como outras famílias poderosas espanholas contratassem Epstein para os ajudar a localizar as suas fortunas que tinham desaparecido. Ao receber recompensas pelo seu serviço atingiu um marco importante, o de milionário.  No final da década de 1980, Epstein e outros investidores decidiram comprar ações da Pennwalt, uma empresa de químicos avaliada em cerca de um mil milhão de dólares. Pouco tempo depois anunciaram que estavam a preparar uma oferta para comprar a empresa por 100 dólares por ação. As verdadeiras intenções não eram de comprar a Pennwalt mas ao ameaçarem a compra, as ações da empresa dispararam. E assim, eles venderam as suas ações e foram capazes de amealhar um lucro significativo. Alguns dos investidores que ele atraiu para investir na Pennwalt exigiram o dinheiro de volta, mas nada aconteceu. No final de 1988 Epstein declarou um património de cerca de 15 milhões de dólares. 

O voo afortunado que cresceu a sua fortuna e poder

Foi um voo para a Flórida um ano antes, em 1987, que transformou Epstein de um simples milionário a um plutocrata com mansões, ilhas privadas e jatos privados. Nesse voo conheceu o seu novo cliente, Les Wexner, multi milionário e criador da marca de lingerie de luxo, Victoria's Secret. Apesar de alertas por parte de colegas e outros empresários para o carácter de Epstein, em pouco tempo Wexner concedeu-lhe controlo sobre as suas finanças e colocou-o como responsável pelos seus negócios e instituições de caridade, tornando-se o maior contribuinte para o crescimento da sua fortuna. Durante anos Epstein citou o seu trabalho para Wexner como prova da sua boa-fé a bancos, investidores e magnatas. Com esta fortuna, comprou uma mansão à beira-mar em Palm Beach na Flórida por mais de dois milhões de dólares, a cerca de um quilómetro e meio da propriedade Mar-a-Lago de Donald Trump. Ambos tornaram-se amigos próximos e Epstein era frequentador assíduo do casino de Trump em Atlantic City. Para além de estabelecer relações com empresários norte-americanos, Epstein começou a desenvolver contactos com líderes mundiais, chegando a participar em reuniões com Benjamin Netanyahu, o atual primeiro-ministro israelita, Shimon Peres e o então príncipe da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz Al Saud. 

Ghislaine Maxwell, a sua parceira em crime

Na década de 1990 Epstein conheceu alguém que o iria introduzir a círculos ainda mais reservados e que iria desempenhar um papel central nos seus crimes sexuais- Ghislaine Maxwell, filha do magnata britânico da comunicação social, Robert Maxwell, que quando soube que a sua filha estava a passar tempo com Epstein ligou aos seus amigos próximos, Ace Greenberg e Jimmy Cayne que garantiram a sua boa-fé.  Dois anos depois já eram um casal e foi nessa época que Epstein começou a abusar de centenas de adolescentes e mulheres jovens. Maxwell foi posteriormente condenada por desempenhar um papel central na sua operação de tráfico sexual e está atualmente a cumprir uma pena de 20 anos. 

De uma escola secundária para a Casa Branca

Em fevereiro de 1993, Epstein e Wexner chegam à Casa Branca, poucas semanas depois de Bill Clinton ter tomado posse como o 42º presidente dos Estados Unidos. Nesta altura Epstein já se tinha tornado um doador político, inclusive doou cerca de 10 mil dólares para remodelar uma ala da Casa Branca, dando-lhe um certo prestígio perto do presidente.  A partir daí, Epstein começou a desenvolver relações com os herdeiros de duas das famílias mais ricas do país, Libet Jonhson, herdeira da fortuna da Johnson & Johnson e David Rockefeller, herdeiro de uma fortuna industrial. Em 1994 Johnson doou mais de dois milhões de dólares à Fundação J. Epstein que ele usava para obter acesso a pessoas influentes.  Pouco depois da sua fundação, Epstein começou a doar dezenas de milhares de dólares para a Universidade Rockefeller, uma instituição de investigação que Rockefeller estabeleceu para juntar algumas das figuras mais poderosas do mundo para discutirem problemas globais. Em 1995 Rockefeller acolheu Epstein no Conselho da Universidade. Desde esse momento, Epstein passou a referir incessantemente as suas ligações à família, chegando a afirmar que geria algum do seu dinheiro, o que era falso.  A riqueza de Epstein, vinda de esquemas e fraudes, cresceu de tal forma desde os anos 80 que antes da sua morte a sua fortuna estava avaliada em 600 milhões de dólares. 
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