Secções
Entrar

Auditoria ao Novo Banco publicada no site da AR sem informação confidencial

08 de setembro de 2020 às 12:50

Relatório revela perdas líquidas de 4.042 milhões de euros no Novo Banco e "descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves" no BES, até 2014. Leia aqui.

O relatório da auditoria da Deloitte ao BES/Novo Banco está desde hoje disponível no site da Assembleia da República, um documento expurgado das matérias consideradas confidenciais. Leia aqui o documento.

O relatório hoje divulgado, com 370 páginas, é o enviado pelo Novo Banco ao parlamento, e contém dezenas de páginas com informação truncada, de matérias consideradas sensíveis, como o nome de devedores cujos créditos constituem perdas significativas.

A auditoria da Deloitte aos atos de gestão do BES/Novo Banco é referente ao período entre 2000 e 2018 (ou seja, abarcando quer o período antes quer depois da resolução do BES e criação do Novo Banco), decorria desde o ano passado e deveria ter ficado concluída em julho, tendo sido entregue na semana passada.

A Deloitte entregou a auditoria integral ao Novo Banco, Banco de Portugal e ao Fundo de Resolução. Já ao Ministério das Finanças foi entregue auditoria sem nomes dos clientes dos créditos, partes sujeitas a sigilo bancário.

Ainda assim, no envio do relatório para o parlamento, o Governo indicou a menção de confidencialidade.

Na semana passada, o presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, Filipe Neto Brandão, disse à Lusa que os deputados têm acesso integral ao documento, mas através de computadores que têm um 'software' de proteção da informação digital classificada, que rastreia a consulta.

Sobre a divulgação pública do documento, o presidente da comissão parlamentar disse entãoo que tinha determinado que os serviços jurídicos identifiquem as partes protegidas pelo sigilo bancário e que também o Governo (através do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares) irá indicar as partes que considera abrangidas por confidencialidade, antes de o relatório ser publicado.

Contudo, segundo a informação hoje obtida, a versão do relatório divulgada no 'site' do parlamento foi a enviada pelo Novo Banco - já expurgada de informação considerada sigilosa.

O Ministério das Finanças avançou na semana passada que o relatório revela perdas líquidas de 4.042 milhões de euros no Novo Banco (entre 04 de agosto de 2014, um dia após a resolução do BES, e 31 de dezembro de 2018) e "descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves" no BES, até 2014, na concessão de crédito e investimento em ativos financeiros e imobiliários.

Em conferência de imprensa, o presidente executivo do Novo Banco disse que 95% das perdas referidas na auditoria da Deloitte devem-se a ativos anteriores a 2014, ou seja, que pertenciam ao BES e passaram para o Novo Banco na resolução. Afirmou ainda António Ramalho que a auditoria "confirma a forma transparente e competitiva" com que o Novo Banco tem vindo a recuperar o seu balanço, sobretudo através da venda de carteiras de ativos.

O jornal Público noticia hoje que a auditoria apurou que a gestão do Novo Banco não informou o Fundo de Resolução que, por duas vezes, foi desaconselhada pelo departamento de 'compliance' do banco a avançar com as operações de venda de carteiras de ativos envolvendo a sociedade Alantra (representada em Portugal por uma ex-assessora de Ricardo Salgado, Rita Barrosa).

Segundo o jornal, este facto só viria a ser reportado ao Fundo de Resolução em junho deste ano, quase dois anos depois na sequência da auditoria da Deloitte.

No relatório, a auditora revela ainda que não conseguiu confirmar ou excluir eventuais ligações entre os compradores das carteiras de ativos do Novo Banco e sociedades próximas do próprio banco ou da Lone Star (o fundo norte-americano dono de 75% do Novo Banco).

O Novo Banco disse hoje, em comunicado, que o Conselho de Administração executivo ponderou o parecer não vinculativo do departamento de 'compliance' sobre a Alantra e que o próprio departamento considerou essa decisão "estratégica e de gestão" e que decidiu contratar a Alantra Espanha "com expressa proibição de ser envolvida a equipa portuguesa".

"É essa divergência na escolha do assessor que o Novo Banco não referiu ao Fundo de Resolução por considerar um detalhe sem especial relevância e que é reportada na auditoria especial", refere o Novo Banco.

Ainda segundo o banco, a Alantra tem "reconhecida experiência" em operações de venda, trabalhando inclusivamente com entidades entidades públicas Oitante e Parvalorem.

Já sobre os compradores de carteiras de ativos do Novo Banco, fonte oficial disse que "uma vez que não foi detetado envolvimento de qualquer parte relacionada, não foi identificada a necessidade de análise adicional sobre as contrapartes na perspetiva de processo relativo a transações com partes relacionadas e mitigação de (inexistentes) conflitos de interesses".

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela