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Vuelta: Primoz Roglic exorciza demónios do Tour com bis em Espanha

08 de novembro de 2020 às 16:46

Depois de uma Volta a França perdida no fim para o compatriota Tadej Pogacar, o esloveno venceu a Volta a Espanha que já tinha conquistado no ano anterior.

O esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma) venceu hoje a Volta a Espanha em bicicleta, repetindo o triunfo de 2019, conseguindo catarse dos 'demónios' da Volta a França, perdida no fim para o compatriota Tadej Pogacar.

"Toda a minha equipa é especial, e fez coisas especiais o ano todo. Nesta Vuelta, ajudaram até quando não estavam no seu melhor. Tem sido incrível, estou muito feliz e grato de fazer parte desta equipa", explicou 'Rogla', na manhã de hoje, no último dia de uma temporada que, à semelhança dos seus últimos anos, foi uma autêntica 'montanha russa'.

Da desilusão no Tour à alegria em Espanha foram 49 dias, com um 'Monumento' ganho pelo meio, o que lhe permite conseguir em 2020 algo que só quatro outros ciclistas fizeram antes: vencer no mesmo ano um 'Monumento' e uma grande Volta, e o primeiro desde Danilo di Luca, em 2007.

Para o ciclista de 31 anos, que venceu a Vuelta duas vezes em duas participações, o triunfo, a que se junta a classificação por pontos e as quatro etapas ganhas, funcionam como nova demonstração de força, após a 'quebra' em França, e catarse para essa desilusão.

A começar o ano, seis meses 'deitados ao lixo', isto é, passados a treinar ora na estrada ora em casa, em cima de rolos, devido à pandemia de covid-19, com o corredor a não sair para a estrada um único dia antes de junho.

Mas, quando saiu, fez com que contasse: sagrou-se campeão da Eslovénia de fundo e foi segundo no contrarrelógio, num 'prenúncio' do que viria a acontecer mais tarde, ao perder para Tadej Pogacar.

Ainda antes desse 'trauma', venceu o Tour de l'Ain e uma etapa no Critério do Dauphiné antes de abandonar, ainda assim chegando à Volta a França na melhor forma, confirmando-o com uma vitória na quarta tirada.

No nono dia de corrida, chegou à amarela, e desde então viria a defendê-la, ao lado dos seus 'escudeiros' na Jumbo-Visma, como o holandês Tom Dumoulin, o norte-americano Sepp Kuss e o holandês Wout Van Aert, com 'unhas e dentes', a chefiar um bloco aparentemente invencível.

Acabou por ser um jovem, a correr a segunda grande Volta do ano, e logo um compatriota que o admira, a roubar-lhe, de novo, o sonho de vencer o Tour: no contrarrelógio da 20.ª e penúltima etapa, bateu-o e garantiu a vitória.

A expressão de frustração, pasmo e desilusão de Roglic, um antigo campeão mundial de juniores de esqui alpino, correu o mundo do ciclismo: acabava em segundo, como em 2019 tinha acabado a Volta a Itália em terceiro apesar de chegar repleto de vitórias a esse Giro.

Não se deixou ir abaixo, e o campeão da Volta ao Algarve de 2017 viria a brilhar poucos dias depois, em 04 de outubro: já depois de um sexto lugar nos Mundiais de fundo, venceu a Liège-Bastogne-Liège, o primeiro 'Monumento' da carreira.

Dezasseis dias depois começava a Vuelta, como dorsal 1 de vencedor de 2019, e não perdeu tempo: venceu em Arrate a primeira tirada e vestiu de vermelho, só perdeu a liderança no sexto dia, mas logrou nova vitória em etapa dois dias depois.

Na 10.ª etapa, 'hat-trick' de vitórias e o regresso à camisola vermelha, num corte polémico de três segundos que 'tramou' o equatoriano Richard Carapaz (INEOS), e daí nunca mais largou a liderança, que ainda reforçou no 'crono' da 13.ª tirada.

Antes da 'procissão' em Madrid, na qual encerrou a temporada 2020 de ciclismo de braços no ar, no pódio junto à Praça Cibeles, ainda teve um susto: Carapaz atacou-o no Alto de la Covatilla, tirou-lhe tempo, mas os segundos de bonificação arrebatados ao longo da prova, com quatro vitórias em etapa e vários segundos lugares, 'salvaram' o triunfo.

Depois da tristeza ao perder o Tour, a catarse com a revalidação do título em Espanha, que lhe permite também ver "uma história diferente numa corrida diferente", como hoje de manhã descreveu o sentimento de ganhar.

O antigo homem da Adria-Mobil, já com 46 vitórias profissionais, aumenta o seu estatuto de melhor esloveno de sempre (já era o primeiro a ganhar uma etapa na Volta a França e o primeiro a vencer uma grande Volta).

Nasceu nos arredores de Trbovlje, nona maior cidade da Eslovénia, destacou-se nos saltos de esqui e em 2012 virou-se para o ciclismo de estrada, mesmo começando tarde, para 'saltar' para o topo da modalidade.

Homem de poucas palavras, conhecido pela frieza e maior contenção em público, é elogiado pelos colegas de equipa como alguém bem disposto que não acusa a pressão de 'carregar' expetativas, quer da equipa, que apostou nele em 2016 e desde então, quer do país, que queria um 'herói' e conseguiu-o, dando-lhe ainda um rival: Pogacar.

Com contrato até 2023, Roglic vira-se agora para 2021 e, espera-se, para nova tentativa de ganhar a Volta a França, para enriquecer um palmarés de luxo: duas Vueltas, e em ambas vencendo também a classificação por pontos, 11 etapas em grandes Voltas, duas Voltas a Romandia, um Tirreno-Adriático, a Liège-Bastogne-Liège, a Volta ao País Basco ou a 'Algarvia' de 2017, entre outros.

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