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Toma de probióticos é desejável após tratamento com antibióticos

20 de janeiro de 2020 às 16:20

É o que defende uma cientista do Instituto Gulbenkian de Ciência. Com antibióticos, perdem-se muitas bactérias que habitam o intestino e são benéficas.

A investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) Karina Xavier considera que é desejável a toma de probióticos após um tratamento com antibióticos para "acelerar a recuperação" da flora intestinal e assim minimizar o risco de novas infeções bacterianas.

"Os antibióticos são necessários, temos é de saber como minimizar os seus efeitos secundários", afirmou à Lusa. Um desses efeitos são alterações na microbiota intestinal, que se traduzem na perda de muitas bactérias que habitam o intestino e são benéficas, predispondo o organismo a infeções causadas por agentes invasores como as bactérias patogénicas, normalmente combatidas com antibióticos.

Karina Xavier, que lidera o laboratório de Sinalização Bacteriana do IGC, participou num estudo, hoje divulgado, que se centrou nos efeitos dos antibióticos na flora intestinal e no caráter protetor da bactéria 'Klebsiella michiganensis' (que existe no intestino humano em baixas concentrações) contra bactérias nocivas, como certas estirpes da 'E.coli' e a 'Salmonella', que provocam infeções gastrointestinais.

O estudo, divulgado na publicação científica Nature Microbiology, foi feito com ratinhos, modelo animal próximo dos humanos, que foram tratados com antibióticos e ficaram suscetíveis a novas infeções bacterianas.

Segundo Karina Xavier, a bactéria 'Klebsiella michiganensis' demonstrou ser "bastante eficiente" na resistência e no tratamento a infeções provocadas pela 'E.coli'.

No caso da 'Salmonella', uma bactéria "mais agressiva" que acabou por matar os roedores, a "progressão da infeção foi mais lenta", assinalou a investigadora.

"O estudo abre portas para pensar que para cada patógeno humano [agente que pode provocar uma doença] existe uma ou mais bactérias da microbiota que pode ser administrada como competidor direto desse patógeno", defende, citada em comunicado pelo IGC, a investigadora Rita Oliveira, primeira autora do estudo e que trabalha no laboratório dirigido por Karina Xavier.

Para Karina Xavier, é "mais apropriado" dar complementos probióticos, contendo bactérias como a 'Klebsiella michiganensis', após um tratamento com antibióticos para "acelerar a recuperação da microbiota saudável", a que contém bactérias que são benéficas para a proteção do organismo contra a entrada de bactérias que são nocivas e provocam infeções.

Os probióticos são substâncias que contêm microrganismos benéficos para a saúde e podem ser encontradas em produtos lácteos, como iogurtes, ou em suplementos alimentares. Os antibióticos são medicamentos usados para combater infeções bacterianas.

A equipa de Karina Xavier espera, numa fase seguinte do trabalho, identificar outras bactérias da microbiota intestinal com os efeitos protetores da 'Klebsiella michiganensis' e alargar a investigação sobre esta bactéria e a sua influência sobre outros agentes patogénicos.

O estudo hoje publicado foi realizado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência em colaboração com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

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