Sábado – Pense por si

À boleia de Ljubomir Stanisic

Ricardo Dias Felner 13 de março de 2017 às 19:03

Foi jurado no Master Chef e agora é protagonista de Pesadelo na Cozinha. Quem é Ljubomir Stanisic?

O sítio escolhido para o encontro é a cervejaria Germano,entre a Matinha e Chelas,em Lisboa. É lá que servem as melhores caracoletas da cidade e o jurado do concurso Master Chef,da RTP, adora caracoletas."A dona Graça usa um molho piroso, cheio de margarina, mas excelente. É o truque",diz, ensopando o pão torrado na gordura. O facto de o lugar ser uma tasca feia numa rua feia com prédios feios não importa, pelo contrário. O chef jugoslavo aprecia aquele ambiente de courato" e até prefere os dias de futebol, em que a esplanada está barulhenta e a cerveja sai a rodos. "Ficamos sempre bêbedos quando cá vimos", prossegue, rindo para a namorada, sentada à sua frente, e mandando vir mais uma imperial. Esta descontracção é a primeira coisa que impressiona em Ljubomir Stanisic, 33 anos, natural da Jugoslávia, um homem grande, que se tornou conhecido pelas criações culinárias complexas e moleculares e por ter um génio terrível. Para se ter uma ideia da fama, os empregados do seu restaurante, O Bistro 100 Maneiras, no Chiado,em Lisboa, quando ouvem a sua motoreta estacionar, desatam aos gritos ("o Ljubo está a chegar, o Ljubo está achegar!") e começam a limpar tudo, num corrupio. Ainda na véspera, Fausto Lopes, seu amigo e sócio, confessara que nunca conhecera ninguém tão bruto a trabalhar. – É super agressivo. –A que ponto?, insiste a SÁBADO. –Ao ponto de bater nos cozinheiros. Bater mesmo. A mãe, Rosa Stanisic, 59 anos, admite o seu carácter colérico e autoridade natural. "Basta a presença e a energia dele para tudo começar a mexer à sua volta", concretiza, dando depois uma prova, mais imparcial, dessa força: "O seu primeiro patrão aqui, o Alexander, do restaurante Picanha, um dia virou-se para mim assim: ‘Dona Rosa, eu contrato o seu filho só para ele ficar quieto, de pé e com os braços cruzados, na cozinha, a olhar para os empregados.’" Outra das características do chef nascido em Sarajevo é a incapacidade para estar muito tempo parado. Apesar de não ter mais nenhum compromisso nesse dia, de serem 2h da tarde e de querer apenas comer e beber daí até à noite, ao fim de meia hora já Ljubo está de pé, capacete na mão, pronto a acelerar para outro sítio na sua Piaggio acabada de comprar. Depois de um café e de um pão-de-deus na Padaria Portuguesa, no Areeiro, segue-se a Mercearia Criativa, loja gourmet de eleição na Rua Guerra Junqueiro. Ljubo compra queijo de cabra da Granja,"o melhor do País", produzido pelo amigo Adolfo Henriques (que há-de ir,nesse mesmo dia, ao seu restaurante levar-lhe ervas aromáticas e tomates-coração). E também manteiga de Azeitão e bolos lêvedos dos Açores, duas coisas que lhe causam uma alegria evidente. Só falta arroz. – Arroz não tenho – diz lhe o proprietário da loja.– Mas estou à espera de uma nova variedade do vale do Mondego que é parecido com o calasparra espanhol. Os olhos do chef brilham. – Parecido com o calasparra espanhol! Mas quem produz? – dispara, pedindo logo um papel para apontar a referência. Daí para a frente, não há-de largar mais o telemóvel.

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