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Pacientes paralisados voltaram a andar após implantação de elétrodos em zona secreta do cérebro

Luana Augusto 03 de dezembro de 2024 às 17:09

Uma nova descoberta fez com que dois pacientes paraplégicos voltassem a caminhar curtas distâncias e a subir e descer escadas. Dispositivo é colocado numa área cujo papel na marcha era desconhecido.

Dois pacientes paraplégicos conseguiram voltar a caminhar curtas distâncias e subir e descer escadas graças à implantação de elétrodos no cérebro. Antes das suas lesões, precisavam de uma cadeira de rodas. 

REUTERS/Bassam Khabieh

Segundo a Sky News, beneficiaram de uma técnica chamada estimulação cerebral profunda, que permitiu despertar nervos e restabelecer o controlo das músculos das pernas.  Agora, as duas pessoas caminham curtas distâncias, ainda que tenham que recorrer a uma bengala ou a um andarilho. 

"Assim que o elétrodo foi colocado e realizámos a estimulação, o primeiro paciente disse imediatamente: ‘Sinto as minhas pernas’", revelou ao canal de televisão a professora Jocelyne Bloch, responsável pelas operações no Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça. "Quando aumentámos a estimulação, ela disse: ‘Sinto vontade de andar.’" 

Wolfgang Jaeger é um dos dois pacientes. Tem 54 anos e partiu a coluna num acidente de esqui, em 2006. Os elétrodos cerebrais mudaram a sua vida desde que lhe foram implantados, há dois anos. Desde então, tem trabalhado intensamente com fisioterapeutas para recuperar o movimento dos seus membros. 

"Se eu quiser, posso caminhar um pouco, ou subir e descer escadas, ou se precisar de algo na cozinha, onde tenho que me levantar, posso fazê-lo", disse à Sky News. "[A tecnologia] Está cada vez melhor. No futuro, acho que não vamos precisar de cadeiras de rodas novamente. É um longo caminho, mas acho que o sonho se tornará realidade." 

A descoberta deu-se após os neurocientistas do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Lausanne, terem utilizado Inteligência Artificial (IA) para mapear todos os neurónios do cérebro de ratos e ratazanas envolvidos no ato de caminhar. Para sua surpresa, uma região chamada hipotálamo lateral – conhecida por estar envolvida na excitação e motivação - foi sinalizada como tendo um papel fundamental na caminhada. Os cientistas acreditam agora que o hipotálamo lateral comanda outras partes do cérebro que enviam sinais às fibras nervosas que permanecem intactas após a lesão medular. 

"A pesquisa demonstra que o cérebro é necessário para recuperar da paralisia", disse à Sky News o professor Gregoire Courtine, neurocientista e líder da equipa de investigação em Lausanne. "Descobrimos como explorar uma pequena região do cérebro, que não era conhecida e pode estar envolvida na caminhada, a fim de ativar conexões [nervosas] residuais e aumentar a recuperação neurológica". 

A descoberta foi tão inesperada que acabou até por ser questionada por outros cientistas, mesmo que tenham acabado por aprovar o manuscrito para a publicação na revista Nature Medicine. Depois de vários testes bem-sucedidos em roedores, a equipa suíça começou a implementar os elétrodos no hipotálamo lateral de pacientes humanos. 

Esta técnica, que já é amplamente utilizada para controlar tremores em pessoas com Parkinson, é realizada enquanto os pacientes estão acordados. Só assim é que os cirurgiões poderão ter a certeza de que alcançaram o ponto certo do cérebro e com a força certa de estimulação, aponta a Sky News. 

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