De princesa a Rainha com uma nova atitude
A relação com Filipe, a coroação após a morte do pai e os rumores de crise conjugal. O segundo volume de "A Rainha" centra-se no lado pessoal de Isabel II.
Temos, na memória, Isabel II como uma Rainha omnipresente. Um exemplo de longevidade, serviço, um símbolo ocidental daquilo que uma monarquia foi e é. Ou do que pretende ser. É que a ficção deitou por terra a parede que existia, especialmente emThe Crown,The QueenouSpencer, e os corredores do palácio de Buckingham tornaram-se, ao longo dos anos, um simulacro de todas as virtudes e todos os pruridos da família real, mostrando-nos que, à parte do estatuto, os papéis são desempenhados por pessoas reais.
Mas Isabel II há muito que é a figura central deste filme, e as quase sete décadas à frente do Império são um testamento inegável. Rainha desde 1952, aquando da morte do pai, e oficialmente coroada em 1953, a monarca rompeu algumas das constrições reais e desafiou o poder em diversas ocasiões, do amor à política. Intacta ficou a sua paixão por cães e por cavalos, e um legado que marcará para sempre o Reino Unido, diz Matthew Dennison, autor desteA Rainha.
Amor, contra tudo e todos
A relação de Isabel e Filipe foi, desde sempre, um problema em várias frentes para a família real britânica. Os vários intervenientes no tabuleiro - nomeadamente a casa real grega e a família Mountbatten, da parte de Filipe -, eram casas muito menos importantes, e a pressão que exerceram para que tudo funcionasse, fez com que o Rei Jorge VI tivesse reservas. Isabel não lhe deu escolha; a vontade inabalável da futura Rainha de assumir publicamente o relacionamento fez com que o Rei cedesse. Um ano antes de a imprensa dar como certo o noivado já Jorge VI tinha encomendado ao Ministério do Interior os procedimentos necessários para que Filipe se tornasse súbdito britânico.
A queda de um Rei
Foi em viagem, no Quénia, que Isabel e Filipe receberam a dramática notícia: Jorge VI, de 56 anos, faleceu no dia 6 de fevereiro de 1952 vítima de uma trombose coronária. A morte do monarca abalou profundamente Isabel, que imediatamente rumou a Inglaterra onde assumiria, com efeito imediato, as funções de Rainha. No total, 500 mil pessoas participaram nas cerimónias fúnebres chegando a Isabel incontáveis relatos do valor do pai enquanto Rei e pessoa. Mas não havia tempo para aprofundar o luto: a Inglaterra, que poucos anos antes tinha saído vencedora da Segunda Guerra Mundial, e que continuava com Winston Churchill aos comandos, apressou-se a abraçar a nova Rainha em busca da prosperidade que as figuras reais femininas já lhe haviam trazido no passado.
Uma visão diferente do Império num mundo em mudança
Em visita à Austrália e à Nova Zelândia, Isabel fez um pedido expresso aos organizadores da viagem para que se pudesse encontrar com os líderes das comunidades aborígene e maori, uma atitude sem precedente. Noutro exemplo, confrontada com a declaração de um monge budista, de que os seus irmãos monges "ficariam de pé no exterior dos templos em Kandy, durante a visita da Rainha a Ceilão, para mostrar que não desejavam que ocupasse o templo a menos que prestasse homenagem ao dente de Buda". Isabel acedeu. Visitou de facto o relicário sagrado no Templo do Dente sem o embaraço do boicote dos monges, tirando os sapatos. Além deste episódio, a Rainha ficou conhecida por usar o vestuário para seduzir e lisonjear os seus anfitriões. Exemplo disso foi o vestido em tule cor de mimosa com bordados cintilantes de acácias, flor nacional da Austrália, que a Rainha levou para a visita ao país no meio de oito toneladas de bagagem.
A visita a Lisboa
Afastando os rumores de um divórcio iminente pela quantidade de tempo que passavam separados, Filipe e Isabel fizeram da capital portuguesa o ponto de encontro para esmagar toda a má imprensa. A visita oficial do casal a terras nacionais levou quatro dias: marido e mulher desceram sorridentes da barcaça do Estado português, que os transportou pelo Tejo, a 16 de fevereiro de 1957, para serem recebidos em apoteose pelos portugueses.
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