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Ângelo Rodrigues, o ator viajante pela segunda vez em coma

Gabriela Ângelo 16 de janeiro de 2025 às 12:36

Ator de 37 anos foi internado com uma pneumonia por aspiração, mas já foi desentubado e encontra-se estável. Depois de ter recuperado de outro problema de saúde, sofrido em 2019, regressou aos ecrãs e protagonizou recentemente a série mais vista do Brasil na Netflix.

No domingo, o ator Ângelo Rodrigues foi internado no Hospital São José em Lisboa, na sequência de uma pneumonia por aspiração. Foi colocado em coma induzido e entretanto, já foi retirado do ventilador e não corre risco de vida. Encontrado num quarto de hotel, foram os funcionários do local que chamaram a ambulância. 

Ângelo Rodrigues

Segundo o site da CUF, a pneumonia por aspiração ocorre quando se aspiram "corpos estranhos como alimentos, saliva, líquidos ou até conteúdo gástrico" para os pulmões, provocando uma infeção. À CMTV Hélder Pinheiro, infecciologista no Hospital de Cascais, explicou que a situação de coma induzido "normalmente leva-nos a crer que houve uma deterioração da capacidade respiratória do Ângelo Rodrigues, que terá levado à necessidade de entubação e ligação ao ventilador". 

Esta é a segunda vez que o ator de 37 anos esteve em coma. Em 2019, já havia corrido perigo de vida ao ser internado por uma infeção grave após ter tomado injeções de testosterona. No Hospital Garcia de Orta, em Almada, sofreu uma paragem cardiorrespiratória e uma septicemia, levando a um coma de dois meses. Teve de fazer hemodiálise e uma das suas pernas quase foi amputada, mas graças a um tratamento numa câmara hiperbárica e quatro cirurgias, acabou por recuperar. 

Numa entrevista a Iva Domingues em 2023, o ator recordou o momento, que mudou a sua vida. "Mergulhei dentro de mim, encontrei um guerreiro e obriguei-o a lutar". Disse que queria viver a vida "de forma mais intensa, moderada mas sabendo o que realmente importa".

Preocupado com a imagem, Ângelo Rodrigues já tinha feito uma intervenção para corrigir as orelhas, cuja aparência o fez sofrer bullying. Fê-lo por medo da rejeição. "Não lido bem com a rejeição, aprendemos a camuflar, mas ninguém gosta de ser rejeitado", revelou ao falar dessa fase da sua vida, numa entrevista a Manuel Luís Goucha, no ano passado.

A entrada no mundo artístico

Nascido a 9 de setembro de 1987 no Porto, quando era criança, "como muitos rapazes da minha geração", Ângelo Rodrigues queria ser futebolista mas apaixonou-se pelas artes, recordou o próprio na mesma entrevista com Manuel Luís Goucha. A sua tia, a atriz Estrela Novais (que morreu em 2024) "foi uma grande responsável por essa paixão". Durante as férias da escola levava o ator aos bastidores dos projetos que estava a realizar. 

O primeiro contacto que teve com o teatro foi aos 15 anos, enquanto frequentava o Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas. Escrevia os guiões, encenava e protagonizava algumas peças, incluindo sempre os colegas de turma. Mais tarde, fez parte da companhia de teatro TORF, com a qual apresentou dois projetos, A lamentação da Mula (2003) e Desimaginação (2004), ambas encenadas por Jorge Castro Guedes. Ao longo da carreira, Ângelo Rodrigues passou por novelas como Rosa Fogo, Sol de Inverno e Morangos com Açúcar e em 2012, lançou o álbum Angel-O

Em 2014 o ator tinha viajado para o Brasil para terminar o último ano da licenciatura na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, e teve três meses de formação em Teatro e o Enclausuramento para conseguir dar aulas no Complexo Penitenciário de Bangu, uma prisão de segurança máxima na cidade brasileira. O objetivo era partilhar noções básicas de teatro com os prisioneiros mais perigosos do Brasil.

No ano seguinte começou a sua carreira internacional na novela brasileira As Canalhas do TV Globo. Recentemente, juntou-se ao pequeno ecrã com a participação na série Olhar Indiscreto, o thriller psicológico da Netflix que em dezembro de 2023 era a série brasileira mais vista na plataforma de streaming

Durante a época natalícia de 2024, participou no musical Quebra-Nozes e o Reino do Gelo em conjunto com Angie Costa e Rita Rocha no Mar Shopping de Matosinhos.

As viagens e as aprendizagens

As viagens também são uma paixão de Ângelo Rodrigues: considerou-as uma "fuga aos condicionalismos sociais" e um ato de coragem porque permitem "aprofundar camadas" que não conseguiria em Portugal. Para o ator, encarar e conhecer culturas diferentes é uma verdadeira "lição de humildade".

Em agosto de 2022, o ator esteve num mosteiro em Bhaktapur no Nepal para dar aulas em inglês, sempre com a ideia de transmitir o teatro aos monges que ensinava. Queria "levar o teatro a outra parte do mundo e fazê-los questionar enquanto cidadãos, adolescentes, poder problematizar coisas através do teatro", relatou.

De seguida, foi para o Camboja, onde foi voluntário num santuário de elefantes. Durante essa altura, realizou um documentário, em que entrevistava pessoas do Nepal, do Camboja e da Tailândia, fazendo-lhes as mesmas questões para observar a transversalidade das respostas.

Ângelo Rodrigues também fez um percurso de comboio na Mauritânia, onde teve uma experiência "clandestina que une viajantes que tenham apetência para desafios extremos". A viagem no comboio de ferro atravessa 705 quilómetros do deserto africano em que mauritanos sobem clandestinamente para os vagões durante 18 horas sem paragens. No mesmo país realizou um documentário sobre a vila de Dali Kumbe, uma comunidade onde metade das pessoas são cegas, querendo entender como as pessoas "viam a vida".

Em 2023 realizou um documentário que está em streaming na Opto, sobre uma viagem que realizou com a irmã pela China, "partindo da vibrante cidade de Xangai até chegarmos à majestosa e imponente montanha do Evereste". Segundo uma publicação na sua página de instagram, a viagem foi impulsionada "pelo desejo de alcançar o acampamento base da rainha dos Himalaias" e embarcaram "numa expedição que se tornou transformadora para ambos". 

Foi em Cuba que aperfeiçoou a veia de documentarista na La Escuela Internacional de Cine y Televisión, uma escola de cinema localizada a uma hora de Havana, em San Antonio de los Baños. Ao "tentar mostrar outras perspectivas" através de documentários, Ângelo quer atenuar as injustiças sociais que vê, e que viu em Cuba. "Nunca estive num país onde o desejo de todas as pessoas era sair de lá, para fazer qualquer coisa", explicou o ator a Manuel Luís Goucha. Foi lá onde teve de gravar a selftape para as novas temporadas da série da Netflix Rabo de Peixe, e assim que regressou da viagem recebeu a notícia de que tinha ficado com o papel. 

A segunda temporada ainda não tem data de estreia, mas a gravação da terceira temporada já foi anunciada pela plataforma de streaming.

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