Secções
Entrar

Sócrates diz que derrota do PS nas legislativas foi por falta de uma "agenda modernizadora"

Lusa 02 de junho de 2025 às 11:02

O antigo primeiro-ministro considerou a atitude do partido com o ex-secretário-geral Pedro Nuno Santos, "mesquinha e confrangedora", ao querer atribuir-lhe a responsabilidade pela derrota eleitoral.

O antigo primeiro-ministro José Sócrates considera que o PS tem de fazer mais do que refletir e diz que a grande causa da queda do partido nas eleições legislativas foi a falta de uma agenda modernizadora para o país.

Pedro Catarino

"Eu vejo a ausência de um programa de modernização, a ausência de um plano de ambição, que acho que deve andar a volta daquilo que é uma questão vital no nosso país, que é o salário. O salário tem de subir no nosso país e através do salário virá tudo", disse o antigo primeiro-ministro, numa entrevista transmitida no domingo à noite na CNN Portugal, na véspera do regresso da Operação Marquês aos tribunais.

Na entrevista, refere, que espera que a esquerda, "agora que o país voltou à direita", não queira transformar-se "numa direita 2" e considerou que, durante anos, o que o PS fez quanto ao investimento público foi "adotar o discurso da direita".

O antigo primeiro-ministro considerou ainda a atitude do partido com o ex-secretário-geral Pedro Nuno Santos, "mesquinha e confrangedora", ao querer atribuir-lhe a responsabilidade pela derrota eleitoral.

José Sócrates deixou igualmente criticas ao ex-primeiro-ministro António Costa, que acusa de ter chegado ao Governo pela "porta dos fundos", numa referência a William Pitt, até hoje o mais novo primeiro-ministro de sempre no Reino Unido, que depois de muitos ataques pela falta de experiência respondeu: "Eu fui eleito pelo povo e nomeado pela rainha. Não cheguei aqui pela porta dos fundos".

Deixou também críticas ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que vê como uma "personagem sem consequência".

Sobre o passado recente da relação entre PS e o Presidente da República, afirmou: "O PS fez uma aliança com Marcelo de forma não explícita: nós não apoiamos nenhum e tu, como Presidente, apoias-me como primeiro-ministro. Foi feito de forma manhosa, escondida. O PSD já apoiou um candidato socialista, quando Mário Soares se candidatou --- mas foi à frente de toda a gente."

"Foi muito mau. Em primeiro lugar, porque este Presidente revelou ser quem sempre foi e termina assim, desta forma que estamos a ver: uma personagem sem consequência --- como sempre foi, nunca foi outra coisa. Espero que o próximo Presidente não faça da intriga a ação política", acrescentou.

Quanto ao atual primeiro-ministro, Luis Montenegro, diz que "ganhou esporas" e, através da "resiliência e combatividade", se transformou "num personagem político respeitável"

Sócrates lembrou que algumas das reformas que o novo Governo quer implementar são ideias anunciadas por si há 20 anos, como é o caso do TGV, da localização do novo aeroporto ou da terceira travessia sobre o rio Tejo.

"O Governo retomou estes projetos, enquanto o PS parecia que tinha vergonha deles, por ventura por serem do Sócrates e, portanto, nem sequer fala neles", afirmou.

Questionado sobre um eventual regresso à vida política, recusa e acrescenta: "Tudo isto [a Operação Marquês] foi feito para me afastar da vida política".

"O objetivo sempre foi político: impedir-me de me candidatar a Presidente. Mas não pondero, isso colide com o meu ponto de vista. Não consigo ver na política uma arma para combater judicialmente. Não quero usar a política, quero travar a batalha judicial. Quero que se respeite a lei", diz, citado pelo Expresso.

Quanto às presidenciais, diz que não vota nem em Gouveia e Melo, nem em Marques Mendes, nem em António José Seguro, mas que "votaria em António Vitorino, se ele fosse candidato".

Sobre a subida do Chega nas últimas eleições legislativas, afirma: "Os partidos democratas o que têm de fazer é combatê-lo. Não vejo que se possa fazer de outra forma".

Entende que os portugueses votaram "num partido que tem implícito um apelo à violência política, à agressão, ao insulto, à boçalidade política e ao primarismo da política" e diz não acompanhar a ideia de que quem votou no Chega se equivocou ou votou no partido por outro motivo que não seja as suas propostas e o discurso político do Chega.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela