Secções
Entrar

Padre do Opus Dei defende voto em Ventura

Ana Bela Ferreira 18 de janeiro de 2021 às 11:51

Gonçalo Portocarrero de Almada escreveu artigo de opinião em que defende voto num candidato que dê garantias de votar contra a eutanásia. E aí, diz, só Ventura "teve uma resposta negativa clara".

O padre conservador Gonçalo Portocarrero de Almada escreveu um artigo de opinião em que defende o voto em André Ventura. Um apoio que o candidato do Chega à Presidência já agradeceu, mas que está a gerar polémica e levou o prelado Opus Dei - ao qual o padre pertence - a desmarcar-se do teor do texto publicado noObservador.

Num texto em que defende que a próxima eleição presidencial "tem uma especial relevância ética", Portocarrero de Almada escrutina as posições de cada candidato perante a questão da eutanásia, cuja lei caberá ao próximo presidente vetar ou promulgar.

Perante a posição favorável de Ana Gomes, Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva, Portocarrero de Almada determina que "para um cristão coerente" estas candidaturas "estão, à partida, excluídas". A resposta evasiva de João Ferreira não convence, já que sendo "comunista, tende a ser um sim à eutanásia". Já o "'nim' do atual Presidente, que é católico, pode vir a ser um 'não'."

"Se assim for, para os católicos, só existem duas candidaturas presidenciais compatíveis com a doutrina social da Igreja: a do atual Presidente e a do deputado do Chega." Aliás, como sublinha no texto, André Ventura foi o único que "teve uma resposta negativa clara".

A partir daqui, o padre defende que as posições mais extremistas de André Ventura não quebram as questões da doutrina social da Igreja. Já que as questões do acolhimento de migrantes ou a defesa da prisão perpétua, são "questões opiniãoveis" e não "temas doutrinais em que não há liberdade de opção" como: "um católico não pode ser racista, nem a favor do aborto, nem partidário da eutanásia".

Posto isto, Portocarrero de Almada lembra que cabe a cada católico decidir em consciência e liberdade em que vota. E à hierarquia da Igreja "compete, certamente, esclarecer os católicos sobre o seu direito e dever de participação política, nomeadamente através do voto, mas no mais escrupuloso respeito pela liberdade de escolha dos fiéis, desde que a sua opção seja compatível com os princípios fundamentais da doutrina social da Igreja".

"Palavras" e "confiança" que André Ventura agradeceu no Facebook. Escrevendo: "Foram muito importantes para mim e certamente mais importantes ainda para os católicos portugueses."

Como votou Ventura na lei aprovada?
No entanto, como lembram alguns comentários na página do padre Portocarrero de Almada, André Ventura nem sempre foi contra a Eutanásia. Recordando o texto que este escreveu quando era estudante de Direito na Universidade Nova e que foi divulgado pelo DN.

Nessa época, Ventura congratulava-se com uma "sociedade civil cada vez mais exigente quanto às liberdades individuais" a descriminalização do aborto - que não era ainda uma realidade em Portugal - e que frisava estar "descriminalizado na grande maioria dos estados europeus" e a eutanásia, assim como a prostituição e a "descriminalização das drogas leves", proclamando: "Quanto a mim, digo que ainda bem que assim é."

E José Pinto-Coelho, presidente do Ergue-te, partido de extrema-direita, recorda, num longo comentário ao artigo de Portocarrero de Almada, que no dia da aprovação da lei na Assembleia da República, "André Ventura, esse campeão de faltas, mais uma vez, convenientemente faltou." Aproveita ainda para criticar a posição do autor do texto: "infelizmente está [o padre] a enveredar pelo caminho da polémica, de forma cada vez mais ostensiva, por via dos artigos que escreve. Agora com este apelo ao voto em André Ventura - sem a menor consistência argumentativa!"

Opus Dei demarca-se
No entanto, o Opus Dei veio demarcar-se deste texto do padre. Num comunicado, refere que o artigo levantou algumas dúvidas se este espelhava a posição do Opus Dei. "As opiniões do Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada, como várias vezes ele tem referido, não vinculam de modo nenhum o Opus Dei nem ninguém que beneficie dos seus serviços pastorais."

O Opus Dei encaminha os fiéis para o documento da Conferência Episcopal Portuguesa "Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da doutrina Social da Igreja", publicado em maio de 2019, a propósito das eleições legislativas e europeias. Lembrando que o documento "contribuiu com reflexões e sugestões organizadas segundo princípios que se encontram na base da doutrina social da Igreja."

Assim, "qualquer padre, dada a sua condição sacerdotal, é chamado a abster-se de dar orientações de voto, ainda que possa chamar a atenção para declarações públicas sobre um tema com transcendência moral", refere ainda o comunciado.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela