Pedro Marta Santos questiona: "O que fazer quando não sobra ninguém para admirar?"
O que fazer quando os portugueses que admiramos têm todos mais de 70 anos (Adriano Moreira, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís, Eduardo Lourenço, António Damásio)? O que fazer quando não sobra ninguém para admirar? Onde estão as vozes eticamente superiores da minha geração? O que dizer quando um gestor nacional – Zeinal Bava – recebe 5,4 milhões de euros como prémio pela conivência no desmantelamento de uma das raríssimas grandes empresas da Nação após acumular perto de 45 milhões de euros em salários e bonificações, num País pobre como uma galinha esfomeada, em década e meia ao leme de um antigo monopólio, apoiado em posição dominante e politicamente defendido de uma OPA? Como comentar quando a elite de economistas e banqueiros não se cala quanto ao “enorme sacrifício pessoal” (Vítor Bento no Novo Banco, Horta Osório sobre Stock da Cunha) em exercício de postos de gestão regiamente remunerados? Como reagir quando a crise mais profunda é do Hemisfério Norte do planeta, não nacional? E não é económico-financeira, mas moral? O que contrapor quando o ministro da Educação trata os frequentadores das escolas como gado bovino e a ministra da Justiça trata os frequentadores dos tribunais como pecuária? Como se explica aos nossos filhos o que é a igualdade de oportunidades, a meritocracia, a contextualização dos factos, a importância do voto, o privilégio ímpar do sistema democrático? Que modelos se citam a esses miúdos quando eles nos questionam sobre a Tecnoforma, os cursos universitários certificados a um domingo, a infinita capacidade anfíbia dos submarinos, o buraco negro da presidência?
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.