Enquanto as nações do Islão não tiverem o seu Renascimento, não há manifestações em Paris que nos (lhes) valham
Imaginem um cartoon de um jornal satírico iraniano a gozar com a divina concepção de Maria, insinuando que a mãe de Jesus se prostituiu pelas ruas da Judeia. Em consequência, dois fundamentalistas católicos apostólicos romanos irrompem pela redacção do jornal, matando 12 pessoas. O cenário descrito é impossível de acontecer. Em primeiro lugar, porque um jornal satírico em Teerão não duraria 48 horas (excepto numa perigosa clandestinidade). Depois, porque os fundamentalistas católicos começaram a ver os seus poderes diminuídos a partir do século XVIII (há excepções: o número de salas de estudo da Bíblia na Casa Branca de George W. Bush deu no que deu). Uma semana após os terríveis acontecimentos de Paris, talvez seja a hora de reflectirmos sobre a responsabilidade do Islão "moderado" em acontecimentos desta natureza. Que brandura existe num conjunto – ainda assim complexo – de países cujos direitos, liberdades e garantias continuam a resultar substancialmente de preceitos, proféticos e consuetudinários, derivados dos séculos VII a XIV? Onde estão as enormes manifestações do mundo islâmico contra o jihadismo? O maior prejudicado com a fragilidade reformista dos líderes políticos e espirituais do Islão não é o Ocidente, são os habitantes do mundo islâmico. No importante O Fim da Fé, Sam Harris escreve que "os religiosos moderados são, em larga medida, os principais responsáveis pelos conflitos religiosos no mundo, pois foram as suas convicções que criaram o contexto que impede de contrariar o literalismo exegético". Enquanto as nações do Islão não tiverem o seu Renascimento, não há manifestações em Paris que nos (lhes) valham.
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