Sábado – Pense por si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos
17 de março de 2015 às 08:00

Nos idos de Março

A História está saturada de amizades traídas e fidelidades eternas desfeitas num instante

A 15 de Março de 44 a.C. – completam-se 2059 anos este domingo –, Júlio César era assassinado na Cúria de Pompeu, coração de Roma. Como resultado de escavações arqueológicas e de análise documental mais atenta, confirmou-se há dias que o militar Décimo Albino, grande amigo de César e seu protegido, foi tão responsável pelo homicídio como os velhos compinchas Caio e Bruto. A História está saturada de amizades traídas e fidelidades eternas desfeitas num instante. Mas a velha Lusitânia, como a aldeia dos irredutíveis gauleses de Astérix, resiste ainda e sempre em inverter a tendência. Os argumentos da acusação de José Sócrates parecem confirmar que somos especialistas em relacionamentos inquebrantáveis: presumivelmente, Carlos Santos Silva terá passado mais de uma década em esquemas de transferência de pilim que não lembram ao diabo, tudo por gratidão devota. Portugal está carregadinho de amizades electivas: Passos e Relvas; Ronaldo e o cunhado Zé; Jardim Gonçalves e a Opus Dei; Pinto da Costa e a fruta; Marcelo e o espelho; Cavaco e a parvoíce. Como especialistas em amor desinteressado, tanto carinho reforça-nos a tendência para a ausência de culpa. Nunca temos culpa de nada porque somos motivados pela ternura da afeição e a cegueira da afinidade. Ao contrário da Roma antiga e do Júlio César de Shakespeare, a culpa portuguesa está sempre nas estrelas. 

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