Ver alguém concentrado e apaixonado a cumprir uma profissão pode ser das coisas mais bonitas e estimulantes a que se pode assistir. É ver alguém superar-se para que o resultado daquilo que está a fazer seja o melhor que ela alguma vez vai conseguir. É uma história de amor.
UMA VEZ VI um documentário sobre uma família no Japão que fazia gelo. Produzem-no de forma artesanal, sem o recurso a máquinas, recorrendo apenas às mudanças de temperatura num longo e delicado processo. Acontece no inverno, quando a água derrete da montanha e é recolhida num tanque criado para o efeito. O tanque está numa sombra, onde as árvores têm a fundamental tarefa de proteger a água gelada do sol, para que as baixas temperaturas se mantenham. O gelo começa então a formar-se à velocidade de um centímetro por dia. Todos os dias é preciso passar com uma escova na camada de gelo, para tirar as impurezas que lá vão caindo. Quando chega aos 15 centímetros de espessura, é cortado em blocos simétricos e está finalmente pronto. Dizem que a transparência do gelo feito desta maneira não se compara a nenhuma outra feita em máquinas congeladoras. É isso que o torna especial: a pureza conseguida pelo trabalho duro e delicado de quem o fez. Bem sei que o tema não parece muito interessante (embora para mim seja, devo dizer), mas o que acaba por torná-lo fascinante é a dedicação e concentração com que todos eles participavam naquela suspensão do tempo que é a produção artesanal de gelo. O empenho e o foco que dedicavam ao que faziam, a concentração e a atenção aos detalhes, era como se para eles a beleza inteira do mundo dependesse daquilo. O rigor e o preciosismo de fazer bem e cada vez melhor.
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
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