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Tiago Silva Advogado
29.11.2024

A crise do FC Porto. Como sair disto?

Por outro lado, há algo que também ainda ninguém soube explicar: os vários golos que o FC Porto tem sofrido por maus erros defensivos deve-se à falta de um líder dentro do campo?

Nos últimos dias muito se tem dito e escrito para justificar as razões da crise desportiva do FC Porto, assente em 3 derrotas consecutivas e num conjunto adicional de jogos de gritante pobreza colectiva, tendo sido apontados os seguintes factores, isolados ou em conjunto, que alegadamente explicarão os maus resultados desportivos:

a) Perda de referências ou liderança dentro do campo e juventude da equipa

Este argumento da juventude da equipa causa-me alguma urticária pois os dois jogadores mais novos na equipa são, precisamente, os que têm apresentado melhor rendimento individual; são eles, Samu e Nico Gonzalez (o primeiro tem 20 anos e o segundo 22).

Por outro lado, a prestação colectiva esta temporada tem muitas semelhanças com o que sucedeu com o FC Porto na época 2012/2013, treinado por Paulo Fonseca.

Nesse ano, o FC Porto também apresentava níveis exibicionais muito pobres e os resultados não eram muito distintos dos que estamos a viver agora e nessa altura o FC Porto tinha em campo Helton, Danilo, Alex Sandro, Otamendi, Lucho Gonzalez, Varela e Quaresma, pelo que a crise de então não era, certamente, motivada pela perda de referências ou liderança em campo.

Por outro lado, há algo que também ainda ninguém soube explicar: os vários golos que o FC Porto tem sofrido por maus erros defensivos deve-se à falta de um líder dentro do campo? Era esse líder que ia ganhar as segundas bola, fazer o encurtamento agressivo dos espaços, garantir as coberturas, alinhar a linha defensiva e ser mais agressivo quando se trata de recuperar a bola?

Bem, isso não seria propriamente um líder mas o Super homem.
 

b) Plantel fraco

Outro dos argumentos em voga para justificar os maus resultados esta temporada prende-se com a alegada falta de qualidade do plantel do FC Porto.

Ora, bem sabemos que a qualidade individual de hoje não é a mesma de há uns anos atrás, onde pontificavam nomes como Danilo, Alex Sandro, Fernando, Moutinho, Lucho, Hulk, Falcão, Jackson, etc., mas, ainda assim, o FC Porto não tem plantel para, ao menos, competir nos jogos contra os rivais, ao invés de ser atropelado por eles, para vencer em Bodo Glimt e Moreira de Cónegos, para evitar deixar fugir pontos nos últimos minutos de vários jogos e para ser dominador contra os Hoffenheim´s desta vida?

O FC Porto tem um plantel tão mau que justifique sofrer 10 golos nos últimos 4 jogos?

O plantel é assim tão fraco que seja uma fatalidade o FC Porto permitir que qualquer adversário mediano crie oportunidades de golo?

 

Não, o problema do FC Porto reside, sobretudo e acima de tudo, em erros colectivos e individuais que se repetem ao nível da sua organização e processo defensivo que leva a que a equipa tenha muitas dificuldades em sair a jogar quando pressionada, não consiga estabelecer zonas de pressão, nem condicionar eficazmente a primeira fase de construção do adversário, que não esteja bem posicionada para conquistar segundas bolas, que seja

muito frágil ao nível do encurtamento dos espaços (como se viu no primeiro golo do Moreirense e ontem no segundo golo da equipa Belga) e da organização da sua linha defensiva, que não consiga controlar os jogos e as vantagens assumindo o jogo e tendo bola.

Mas os problemas do FC Porto não se esgotam aí.

É que a mensagem do treinador também não parece passar para os jogadores pois não é crível que Vítor Bruno não peça mais compromisso e agressividade à equipa, valores e princípios identitários esses que, se exceptuarmos o jogo de ontem (e que talvez se tenha devido à dura do Presidente), tem andado alheados da equipa do FC Porto.

E neste campo, diga-se, até parece existir alguma dessintonia entre o Presidente e treinador pois enquanto o Presidente do FC Porto decidiu "apertar" com os jogadores, exigindo-lhes mais atitude em campo, Vítor Bruno na conferência de imprensa que se seguiu afirmou que os jogadores têm sido impecáveis e muito honestos no trabalho realizado.

O FC Porto está, pois, enredado no labirinto de Vítor Bruno e se é certo que o calendário nos diz que o FC Porto até ao jogo do Sporting na segunda volta do campeonato tem um calendário relativamente acessível (Casa Pia, Estrela da Amadora, Boavista e Santa Clara em casa e Famalicão, Moreirense, Nacional, Gil Vicente e Rio Ave fora), não é menos certo que os sinais que a equipa dá leva-nos a temer que nova escorregadela possa surgir a qualquer momento, hipotecando, dessa forma, as possibilidades do FC Porto lutar pelo título ou, quanto muito, por uma vaga de acesso à Liga dos Campeões (fundamental para o FC Porto aceder a um encaixe financeiro significativo que lhe permita prosseguir a sua recuperação financeira).

Bem sei que o FC Porto não pode ser gerido de fora para dentro e que o Presidente do FC Porto continua a confiar no treinador e a acreditar que o mesmo nos levará ao sucesso mas o caminho parece cada vez mais estreito e olhado de soslaio pela nação portista.

O momento é difícil e complexo pois as condições do clube não permitem loucuras e a actual fase da época também não é propícia à contratação de um novo treinador com créditos firmados mas há momentos em que a realidade acaba por se impor contra a nossa vontade.

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