A psicologia tem hoje um capital de conhecimento e uma força de trabalho capaz de oferecer garantias, às cidadãs e cidadãos e aos governos, de actuação nas consequências dos problemas e acontecimentos de vida significativos das pessoas.
Faltam poucos dias para passarem quatro anos sobre esse 10 de Outubro de 2018. Nesse dia Mundial da Saúde Mental visitávamos um conjunto de projectos da Associação CRESCER. Acompanhamos uma equipa do "É uma rua" a um dos espaços da cidade de Lisboa onde intervém, de acordo com a metodologia de Redução de Riscos e Minimização de Danos. Como naquele dia, ouço-o contar-nos a sua história, que incrivelmente poderia ser a de quase todas e todos nós, como havia entrado e logo saído de diversas respostas e como acumulava diversas condições de vulnerabilidade: as suas dependências, particularmente de álcool e drogas, a sua condição de pessoa sem-abrigo, a sua solidão e problemas de saúde (significativos) variados. Ouço-o, como vejo, uma pessoa com especiais responsabilidades políticas que nos acompanhava, com uma sensibilidade que me impressionou, olhar a medicação que este senhor trazia num saco e mais tarde comentar, apenas connosco, que ali estavam muitas centenas, senão milhares, de euros investidos. Nesse e noutros momentos desse final de dia e noite de visita a outros projectos e pessoas apoiadas pela CRESCER, a clareza, pela realidade, do quão socialmente determinada é a saúde e do quão, sem promoção integrada da saúde e da saúde mental e sem apoio e integração social e comunitária das pessoas, não podemos aspirar a intervenções eficazes e à melhor utilização dos recursos disponíveis. Do quão pode ser relevante a psicologia, enquanto ciência e profissão, para a saúde e bem-estar das pessoas e para a sustentabilidade dos sistemas públicos.
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