Fadiga da Solidariedade?
Tiago Pereira Psicólogo e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses
06 de abril de 2022

Fadiga da Solidariedade?

Fadiga muscular, fadiga da pandemia, fadiga da compaixão. Tudo a mostrar-nos que temos limites.

Sabem aquele calorzinho que sentimos nos músculos após uma longa caminhada, uma corrida ou a prática de outra actividade desportiva? A fadiga muscular é, como todas e todos sabemos e sentimos, uma reacção fisiológica despoletada quando os músculos do nosso corpo realizam um esforço superior ao que habitualmente realizam ou limite, podendo ser influenciada por outros factores como o período e qualidade de repouso anterior. É, também, uma analogia particularmente eficaz para outras fadigas, mais psicológicas, que todas e todos, em momentos e com intensidades distintas, podemos sentir. Da muito discutida fadiga da pandemia, enquanto sentimento resultante da sobrecarga associada à necessidade constante de hipervigilância e de respondermos a medidas restritivas com impacto e alteração do nosso quotidiano, à fadiga da compaixão, que resulta da exaustão emocional que, profissionais de cuidado ou de "primeira linha", podem desenvolver pelo trabalho continuado com pessoas em perda, luto ou com trauma e em que, por vezes, os problemas dessas pessoas se misturam com os seus problemas, sem o "filtro da racionalidade", essencial à empatia e, sucessivamente, a uma empatia equilibrada e activadora de uma acção de apoio e colaborante e não apenas reforçadora do que já sentimos e por isso potencialmente paralisante. 

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