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Raquel Serejo Martins
Mukashi mukashi

Da utilidade de um carapau

21-11-2016 por Raquel Serejo Martins 185
Somos amigos desde a carteira da escola primária. Contingências alfabéticas, ele António Manuel, eu António Pedro, sentados na quarta fila, porque uma turma com demasiados Abílios, Acácios, Adelaides, Adelinos, Adéritos, Agostinhos, Albanos, Albertinos, Alcinas, Alfredos, Amândios, Amélias, Anas, uma Aida, um Aarão
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Somos amigos desde a carteira da escola primária.

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Contingências alfabéticas, ele António Manuel, eu António Pedro, sentados na quarta fila, porque uma turma com demasiados Abílios, Acácios, Adelaides, Adelinos, Adéritos, Agostinhos, Albanos, Albertinos, Alcinas, Alfredos, Amândios, Amélias, Anas, uma Aida, um Aarão.

Depois de nós, um Manuel, imensas Marias, estas as de primeiro nome, porque todas Marias, dois Joões, três Josés e o Zacarias.

A turma de 1920, da que sobramos apenas eu e o António Manuel, de resto, todos mortos.

Velhice, doenças, acidentes, um suicídio, o Aarão.

Eu e o Manel, desde a escola primária, desde sempre, amigos, compinchas, parceiros, cúmplices, sócios, camaradas (camaradas então não se podia dizer).

O Manel melhor do que eu em tudo, excepto em duas coisas, eu, melhor aluno, e melhor pescador.

A pesca, o nosso passatempo, um recreio levado demasiado a sério.

E o Manel, apesar de melhor em quase tudo, um proas, um gabarolas, um bazófias, um fanfarrão.

Mais de noventa e dois a ouvir o Manel a dizer baboseiras.

O Manel a piscar-me o olho e eu a repetir, a confirmar a mentira, a validar, porque o Manel era assim, e só eu lhe conhecia o defeito, e não me importava, porque era meu amigo, porque os amigos são para estas coisas, são para todas as coisas, porque o Manel era a alegria em pessoa, e aos alegres tudo é perdoável.

E eu perdoava, perdoava e perdoava.

Ontem pesquei três sargos, todos com mais de cinco quilos.

Eu que nunca vi um sargo com mais de três quilos e trezentos, quatrocentos.

Duas dúzias de lúcios.

Os lúcios são peixes solitários. Duas dúzias!

Um pargo deste tamanho, e separava as mãos para mostrar o tamanho do pargo. As mãos do Manel a afastarem-se até ao infinito.

E uma vez, um atum. Pedro, quantos quilos tinha o atum? Trezentos e trinta e cinco Manel.

Um atum de trezentos e trinta e cinco quilos!

Um atum pode atingir os 2,40 metros de comprimento e uns, vá lá, 320 quilos.

E nunca pescou nem um atum!

Só tretas.

Espantava mais o peixe do que pescava, não tinha paciência, morria de tédio.

Até hoje não sei do que gostava na pesca.

Talvez das nossas conversas, dos cigarros que fumava sem a mulher a moer-lhe a paciência, das gaivotas, do cheiro a sal.

Talvez apenas do depois, do diz que fez.

O meu amigo Manel, o meu único amigo, há uma semana entubado numa cama de hospital, sem conseguir respirar, sem conseguir falar, e, no entanto, a falar, a contar-me as nossas aventuras piscatórias, como se eu não soubesse que tudo mentira.

Hoje, levei o meu casaco mais velho.

Todos os meus casacos são velhos.

E no bolso de dentro do casaco um carapau.

Acho que não cheiro a peixe. Pus perfume.

Há mais de trinta anos, talvez quarenta, que não abria um frasco de perfume.

Ainda pensei num robalo de mar, mas um carapau foi mais barato e também faz o serviço.

Sentei-me ao seu lado.

Sorriu. Um sorriso plástico quase igual aos tubos que lhe enfiaram no corpo.

Perguntou-me, lembras-te do atum?

Qual atum, pensei, nunca houve nenhum atum.

Tirei o carapau do bolso de dentro do casaco, um palmo de carapau, um carapau do tamanho de um tubarão, diria o Manel, e enfiei-lho boca adentro, ficou o rabo de fora, a barbatana.

Os olhos do Manel iguais aos dos peixes depois do anzol.

E saí do quarto, atravessei lentamente o corredor, nem com a ajuda da bengala consigo andar lesto, esperei pelo elevador e, enquanto descia pensei, amanhã, acordo cedo e vou pescar.

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