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Raquel Serejo Martins
Mukashi mukashi

Banho de imersão

30-01-2017 por Raquel Serejo Martins 52
Encheu a banheira de água e passou a canícula da manhã enfiado na banheira, no trabalho tinha ar condicionado pelo que a temperatura de aviário
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Encheu a banheira de água e passou a canícula da manhã enfiado na banheira, no trabalho tinha ar condicionado pelo que a temperatura de aviário.

Levou um Musil para a banheira, em menos de meia-hora cansou-se do Musil.

Duas dúzias de vezes começou a ler Musil, duas dúzias de vezes desistiu.

Definitivamente é um homem sem qualidades, pensou de si.

Fumou seis cigarros, encheu a banheira de cinza. Apagou, por afogamento, as beatas acumulando-as na saboneteira em cinzenta convivência com um sabonete de alfazema.

Descascou e comeu duas bananas, depositou as cascas sobre os havaianos chinelos, porém brasileiros, para evitar sujar o turco tapete made in China.

Será que as cascas de banana mancham? Perguntou-se pela primeira vez na vida.

Acontecia um excesso de coisas pela primeira vez na sua vida.

Tentou dormir, dormitou talvez por meia-hora e pensou na vida, na sua vida.

Foi despedido no dia anterior, uma surpresa.

Passou a noite sem dormir, passou a manhã sem dormir.

Há anos que não passava uma noite em branco.

Passou as horas a beber e a fumar, excessos que só comete em festas.

Não foi uma festa.

Bebeu, bebericou como um pardal, uma garrafa de whisky que tinha em casa por abrir há mais de dez anos, uma garrafa prenda dos colegas de trabalho, porque é um bom companheiro, porque é um bom companheiro, cantarolavam em coro desafinado enquanto desembrulhava a garrafa, a retirava da caixa, fazia ar de surpresa, gesticulava um agradecimento com a mão no peito, no coração, e inclinações de cabeça, um escudeiro perfeito.

Bebeu para suportar o tabaco, para apagar o incêndio na cabeça, nos pulmões, o incêndio de um dia quente de Agosto.

Fumou para suportar a bebida.

Passaram vinte e quatro horas, mais de vinte e quatro horas, já conta horas extraordinárias, obviamente não remuneradas, sem emprego, desempregado, foi despedido.

Vinte e quatro horas empregues a beber e a fumar, vinte e quatro horas a queimar o tempo, a cabeça, os pulmões, o corpo.

Sentiu-se sujo, em carvão, em cinza, como um mineiro.

Olhou para o chuveiro. Desprezou o chuveiro.

Encheu a banheira de água. Decidiu tomar um banho de imersão.

Há muito tempo, anos, que não tomava um banho de imersão.

Eram banhos felizes, sempre felizes, sempre com companhia. Na infância ia para a banheira com patinhos amarelos de borracha, em adulto com uma mulher, com a sua mulher.

Percebe com tristeza que nunca tomou banho com a última namorada e sente-se ridículo por pensar namorada.

Namorada é coisa de adolescente.

Se você quer ser minha namorada

Ah, que linda namorada

Você poderia ser

Só homens como o Vinicius podem dizer namorada sem parecerem ridículos.

Só homens como o Vinicius que levaram a vida a namorar.

Foi mais do que um namoro, estiveram juntos quase seis anos.

Em seis anos passam muitos cometas pelo céu.

Não sabe nada de cometas, não percebe porque é que se pôs a pensar nesta treta dos cometas.

Em seis anos envelheceu.

Depois dos quarenta somos velhos mas ainda acreditamos que não somos velhos.

Depois dos quarenta não temos a quem telefonar quando a namorada nos deixa.

Tem, tem o amigo com quem joga ténis desde a adolescência, mas não tem, pois sente-se ridículo por sequer pensar fazer este tipo de desabafo, já não tem dezasseis anos para ter conversas de namoradas, não é o Vinicius.

Depois dos quarenta ficar desempregado parecia tão improvável como de repente, vinte e quatro horas depois, parece permanente.

E começa a sentir-se como uma alface entre as couves.

As palavras da mãe, quando não se penteava como deve de ser, quando não se vestia como era suposto, quando os sapatos indevidamente engraxados, quando os cordões deslaçados, quando mais um vidro da janela partido a jogar à bola, quando os joelhos rasgados, quando tudo o que fazia diferente do irmão, o padrão, o filho exemplar, o único passível de orgulho, exibição e publicidade.

As palavras da mãe, este vai ser como uma alface entre as couves.

E quase choras por vez primeira desde que perdeste o emprego.

Choras sem cautela, fácil, frágil como uma alface não tens a resistência de uma couve.

Não choras, resistes, ainda é fácil resistir.

Pensas que nunca gostaste daquele trabalho.

Pensas que não passarias de um cínico se chorasses.

Fazes a ti próprio um aviso: não te atrevas a perguntar por quem os sinos dobram.

Quase dizes as palavras, depois pensas que se dissesses as palavras seria o cúmulo da solidão.

Não abres a boca. Desabas, deslizas para debaixo de água, abres os olhos e o mundo turvo, líquido, podias chorar, não choras, acreditas que não estás a chorar, quase te deixas afogar, e os sinos dobram, dobram finalmente por ti, ou sem alegorias, tocam à campainha.

Os teus pensamentos, a tua pena, a tua desgraça, interrompidos pelo pragmático toque da campainha da porta.

A pensar quem será sais da banheira, embrulhas-te no robe e a pingar vais abrir a porta.

E não precisas de abrir a porta. A senhora da limpeza abre e entra.

Os dois em evidente estado de surpresa.

Tudo bem menino? Pergunta.

Ao que, sem sequer ponderar omitir, mentir, respondes com inesperada sinceridade: Não, fui despedido.

Isso quer dizer que eu também vou perder o meu emprego?

Não Dona Joana, quer dizer, não sei, vou tentar, depende, talvez, quase de certeza, vais dizendo a conta-gotas, de olhos no chão à procura de um buraco, e buraco nenhum, mesmo se o teu mundo cheio de buracos.

Uma Dona Joana que sozinha, depois de anos dentro de um casamento conturbado, vítima de violência doméstica, a passar a ferro, a passar panos de pó, limpa-vidros e esfregonas, enfiou duas filhas na faculdade, as minhas flores, diz com orgulho, não alfaces, não couves, mas flores.

Uma Dona Joana de cuja vida te servias de exemplo quando os teus dias difíceis.

Sabes que não sabes o que são dias difíceis, a vida só te sujeitou a pequenas tragédias, não tens créditos para te queixar, talvez a tua mãe tenha razão, és uma alface, uma alface que não sabe passar a ferro uma camisa, fazer um arroz, uma sopa, cozer um ovo, com "s" um botão, uma alface inútil e agora sem emprego.

E percebes que a somar ao desemprego estás cansado e com fome e que nunca antes te sentiste tão triste ou desamparado, percebes quão precário é o mundo que construístes.

E a Dona Joana por perceber-te o desespero, décadas de prática em tragédias domésticas, disse: Vou fazer um chá, que não há problema que não se resolva com uma chávena de chá.

Frase que aprendeu com uma série de televisão inglesa, onde havia criados para tudo e um mordomo como um general, serviçais aos seus olhos penteadíssimos e vestidos de gala, que nem aos Domingos se arranja assim, fica assim de elegante, o corpo também não ajuda, serviçais cheios de preocupações inúteis, frase que sabe não ser verdade mas gosta de chá, do aconchego de uma chávena quente nas mãos e do sossego de um intervalo, quase uma trégua como dizem que faziam, também para o chá, nas batalhas medievais, que a cada um a sua guerra, que mesmo a guerra precisa de intervalos.


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