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Aos poucos, já começava a "sonhar para a frente e a sorrir para trás", recuperando a mensagem adormecida de uma curvada idosa e a sabedoria dos levadeiros que preferiam encaminhar a água para fazer vida a desperdiçar vida à espera da água.
Sempre que o dia parece arrumar-se para me ditar o destino, lembro-me das histórias da minha avó na Avenida de França. Todos fizeram escolhas diferentes, influenciados ou não pelas suas circunstâncias, pelos acasos a que decidiram dar sorte. Houve quem escolhesse mal, houve quem magoasse, houve quem saísse magoado, houve quem levantasse a cabeça e prosperasse na adversidade. A favor ou contra um certo vento, faz-se a fortuna sem que o contexto sirva de consolo ao que não quisemos ou não soubemos ser.
Quando vi a desempoeirada naquela carruagem de metro, até estranhei não me ter cruzado com ela mais vezes. Seria um trajeto normal para ambos e a verdade é que o arranque da relação devia muito a essa coincidência. Por isso, fiz aquilo que o coração ditou, finalmente alinhado com a cabeça: saí na minha estação rumo ao meu destino – aquele que não passava pela desempoeirada.
Continuava a ter pesadelos, porque há males que não se esquecem. Mas, aos poucos, já começava a "sonhar para a frente e a sorrir para trás", recuperando a mensagem adormecida de uma curvada idosa e a sabedoria dos levadeiros que preferiam encaminhar a água para fazer vida a desperdiçar vida à espera da água. Talvez devesse voltar à Madeira, apesar da pista curta e dos ventos difíceis. Viver é beleza de que não se desiste.
A aterragem em Guarulhos aproximava-se. O piloto anunciara a descida e eu já começava a pensar na logística da ida para o hotel, no acerto de sono que me iria impor, no trabalho que se avizinhava.
A viagem passara num repente. Entretive-me com um balanço da minha história, da minha circunstância, da minha meia-idade, daquela relação que me marcou tanto, para o bem e para o mal, e da qual ainda continuava a tirar lições. E, claro, olhava com ternura para o casal que a menina do elástico me emprestara com uma troca de lugares indesejada. A professora e o engenheiro eram a moldura que eu precisava para aquela viagem catártica, com as suas diferenças, a sua generosidade, a capacidade de fazer vida, que eu via nos meus avós, nos meus pais e até nas minhas filhas. Eram a realidade possível para lá das estatísticas ou das más experiências.
O avião fez-se à pista e eu já sonhava com algumas prevaricações: um "Romeu e Julieta", outras cumplicidades com queijo (de Minas!) ou goiabada, doce de leite, água de coco (passava a vida a beber aquilo…), churrasco, talvez caipirinha…
Aterrámos sem sobressaltos e montou-se a pressa inútil do costume, com boa parte em pé a tirar as malas e posicionando-se na fila imóvel do corredor. Os telemóveis davam sinal de si e as mensagens trocavam saudade ou mostravam o zelo de quem não se prolongava desligado porque a disponibilidade tem um preço.
Abriu-se a porta e despedi-me do engenheiro e da professora. Ela abraçou-me como quem ia apartar-se de uma adoção em voo. E eu agradeci poder levar mais um calor junto ao peito – daqueles que os anónimos, os ocasionais, os inesperados também nos sabem dar. Desejei-lhe o melhor para o reencontro com a filha e com os netos e avancei em direção à recolha das bagagens.
As malas tardavam e voltei a encontrar os meus companheiros de viagem. Acenei ao longe para não me intrometer nas vidas que só me tinham emprestado. As malas que não vinham. Esperei, esperei, esperámos. Chegaram uma atrás da outra e acabámos por sair juntos.
«Ali está a minha filha! Deixe-me apresentar a família!»
«Olha que o homem tem a vida dele…» – protestou o engenheiro.
«Tenho tempo. Será um gosto.» – condescendi.
As crianças abraçaram os avós. Os adultos não contiveram lágrimas. E eu voltava ao prazer de observar os afetos alheios – essa minha fonte inesgotável de energia, da varanda de Copenhaga ao jovem casal com quem me detive a conversar no corredor do avião.
Lá me apresentaram.
«Quer boleia?»
«Tem um autocarro para esta gente toda?» – ironizei.
Explicou que era uma carrinha de sete lugares, com uma boa mala de tejadilho, e que arranjariam maneira de levar a bagagem dos quatro, nem que se acomodasse qualquer coisa aos pés.
«Quatro?» – verbalizei enquanto me baralhava nas contas.
Faltava a amiga espanhola que apanhou o mesmo voo. A viver em Madrid, ponderava mudar-se para Lisboa, onde ficara uns dias, antes de rumar a São Paulo. O engenheiro e a professora não a conheciam e nem tiveram oportunidade de se apresentar no embarque. Graças àquela despistada, tivemos direito a descolagem tardia.
Sim. Lembrava-me de qualquer coisa, mas, na altura, não dei pela chegada de quem se atrasou.
Simples, espontânea, interessante e descomplicada – era assim que a filha da professora a descrevia enquanto se entusiasmava com as façanhas da amiga. Ainda teve tempo de contar duas ou três histórias que me fizeram rir. E eu fui ficando, no conforto daquele acolhimento, na expetativa de uma boleia de que não precisava.
«Aí vem ela!» – e precipitou-se para um abraço.
Olhos de avelã compunham uma morena que se movimentava com alegria desembaraçada.
A apresentação soou a partida: «A minha querida Paloma!»
Aos poucos, já começava a "sonhar para a frente e a sorrir para trás", recuperando a mensagem adormecida de uma curvada idosa e a sabedoria dos levadeiros que preferiam encaminhar a água para fazer vida a desperdiçar vida à espera da água.
Apetecia-me frango assado. Quando chegasse a casa ainda ia às compras. Talvez conseguisse rever umas coisas à noite, para compensar a desgraça da manhã.
O telemóvel. Falam mal do telemóvel. Dizem que nos isola. O meu não. Faz-me companhia. Elas gostam de mensagens. Algumas adoram áudios. Olho para o ícone na esperança sei lá do quê.
O restaurante ficava perto da Igreja de São Roque, com a promessa de descida ao Cais do Sodré para lavar as vistas com nacionais e estrangeiras, já que era importante que eu não me esquecesse de que "há mais mundo".
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