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Miriam Assor
26.09.2025

Reconhecer Abismo

"From the River to the Sea", desde o rio até ao mar é tudo deles, resumidamente, a convulsão de delírio consiste em varrer com Israel, a única democracia da região, única.

Portugal, isto é, o governo de Luís Montenegro, reconheceu a Palestina sem estarem garantidas as condições que o próprio governo definiu. Desarmamento do Hamas e a libertação dos reféns, de todos os reféns. Não aconteceu. A palavra de honra morreu. Não sobrava alternativa, disse quem diz sempre algo sobre algo, Presidente da República. Quando se come demasiado queijo da Serra com pão duro esquece-se, de propósito, porque dá jeito, fugir descalço com a palavra assumida entre os dedos. Passou-se em Julho, fim deste mês quente deste ano, que o séquito governamental anunciou ao clarinete que se preparava para o passo maior que o sapato. Impunha-se ouvir partidos políticos e a primeira figura do estado. Contudo, apesar de parecer-lhes tudo lindo e bonito e na moda, a decisão dependia, ainda, das referidas condições. Pontapé nelas. Os reféns continuam abaixo da terra. O Hamas segue armado. Avante. Acredita, o governo laranja e outras tonalidades afins, nas garantias da inexistente autoridade palestiniana, que prometeu, entre outras ilusões de óptica e cerebrais, uma reforma institucional e a preparação de eleições. A Fatah não manda e falta-lhe força interna para mandar embora o Hamas. Não é flor que se cheire, não é, não. Perita em atentados contra Israel, acabou por ser traída e tramada pelos manos do Hamas. Mahmoud Abbas, e companhia limitada, vivem em Ramalah, lideram para meia dúzia de pessoas, sem contacto com Hamas, que reina há décadas em regime autocrata e déspota. Aliás, o próprio Hamas não quer conversa com Abbas e companhia limitada. Não pensemos que a Autoridade Palestiniana é neutra e santa. Não é. Historicamente, a OLP, Fatah, Setembro Negro têm crimes hediondos no seu currículo. Também absorvem a ideia com quarto no Júlio de Matos "From the River to the Sea", desde o rio até ao mar é tudo deles, resumidamente, a convulsão de delírio consiste em varrer com Israel, a única democracia da região, única. Se ao Hamas não lhes interessa o pormenor da democracia para Portugal deveria importar. Ter como legítimo a Palestina é saber qual é o território da Palestina. O ministro Paulo Rangel sabe? É Gaza e a Cisjordânia, isso? Qual é o aparelho de poder? Falará, lá na Palestina, com Abbas, o presidente que não pia, nem ordena? Com o Hamas? Com algum obeso que apregoa fome, é? Portugal de Montenegro  procedeu ao reconhecimento em prol da paz, cantam, sem encantar, vozes do governo e da presidência da república. Ova frita. Portugal, como a Maria vai com as outras, foi atrás da França e do Reino Unido, exemplos de países onde o medo vai ter pernas, como ditou O'Neill, e a Espanha liderado por um incendiário antissemita. O Hamas já disse que a matança do 7 de Outubro é o momento fundacional do Estado da Palestina. Reconhecê-la, na prática, serve tanto como um cobertor na Guiné ao meio-dia, contudo é dar, de bandeja, a taça  ao Hamas e adiar, quiçá para sempre até ser o dia, a vida de gazianos que se opõem à besta. Entre a atitude de Rangel e Sobral, o cantor que canta, sem encantar, apenas uma pequena questão de afinação os distancia. O essencial, ao contrário da beleza escrita por Saint-Exupéry, é visível aos olhos.

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