Sábado – Pense por si

Maria J. Paixão
Maria J. Paixão Investigadora
12 de janeiro de 2025 às 10:03

A tragédia e a farsa

Os paralelismos são tantos que acabamos por nos questionar se, de facto, a história tem uma compulsão para a repetição. Mais uma vez, a república parlamentar começa a sucumbir, um pouco por todo o mundo ocidental, ao autoritarismo.

Em 1851, reagindo ao de golpe de Estado encenado por Louis-Napoléon Bonaparte, Friedrich Engels escreve, numa carta enviada a Karl Marx, que os acontecimentos que se desenrolavam em França pareciam dirigidos, a partir do túmulo, pelo "velho Hegel" (o filósofo alemão Georg Friedrich Hegel), fazendo com que tudo se repita duas vezes, "uma como grande tragédia e a outra como farsa podre". No seu ensaio de 1852, ‘O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’, em que analisa o período revolucionário de 1848 a 1851, Marx retoma a expressão de Engels, qualificando os eventos de 1851 como uma paródia da Revolução francesa de 1789. No prefácio à obra que escreveria mais tarde, Marx explicou ser fundamental, mais do que realizar um mero relato dos eventos, iluminar as circunstâncias e relações que permitiram a uma "mediocridade grotesca desempenhar o papel de herói". Na origem do Estado bonapartista que emergia em França estava, segundo o filósofo, a sucumbência da república parlamentar instituída no período anterior ao autoritarismo e à repressão, com o intuito de estancar o descontentamento social que tinha revestido, em 1848, ímpeto revolucionário.  

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