Lei iníquas e dignidade no trabalho
A discussão que ainda mal começou sobre as propostas governamentais de revisão de leis laborais deixa a claro a falta de tino e visão da ministra Maria Ramalho e de Luís Montenegro.
Precaridade e acentuada desigualdade salarial por função e sexo são duas das piores características do regime laboral em Portugal e seria de supor que uma eventual revisão do Código de Trabalho tivesse isso em conta.
Um módico de bom-senso levaria, também, a articular reformas laborais com medidas tendentes a superar os estrangulamentos que, reconhecidamente, mais obstam a um crescimento económico sustentado.
Os custos da energia, a instabilidade e falta de fiabilidade do sistema fiscal, entraves da justiça administrativa e tributária, carências de formação e requalificação profissionais de trabalhadores, baixo nível de competências da classe empresarial num país onde predominam pequenas e médias empresas, são factores negativos.
Incremento de produtividade para especialização nacional em sectores competitivos, o aumento da capacidade de investimento e da massa crítica de negócios de média dimensão e, sobretudo, de grandes empresas capazes de internacionalização, são objectivos desejáveis.
Num sentido estratégico mais lato sobressaem a sustentabilidade ambiental para obviar a consequências negativas de alterações climáticas, a promoção da natalidade e a regulação de fluxos migratórios de modo a permitir a integração de imigrantes chegados para colmatar carências laborais.
Seja em sectores de baixas qualificações – a maioria da imigração – ou de especialização técnica, científica e humanística, é essencial uma justa e ponderada regulação das condições de residência, agrupamento familiar e eventual aquisição de nacionalidade.
Os incentivos necessários à entrada no mercado de trabalho de jovens formados pelo sistema de ensino nacional é outra prioridade compatível, aliás, com a desejável circulação internacional de estudantes, professores e profissionais das mais diversas especialidades.
O financiamento de sistemas de segurança social públicos e privados que assegurem mínimos de equidade geracional capazes de garantir coesão social depende, consequentemente, do investimento político – parcial, moroso, conflitual – numa estratégia de crescimento económico que não se subordine a interesses plutocráticos.
A discussão que ainda mal começou sobre as propostas governamentais de revisão de leis laborais deixa a claro a falta de tino e visão da ministra Maria Ramalho e de Luís Montenegro.
A mama e a carreira
O executivo fez saber, por exemplo, que está disposto a discutir a proposta de limitação a dois anos da licença de amamentação – equivalente a duas horas de redução do horário de trabalho –, obrigando a apresentação de atestado médico a partir dos seis meses.
Também as limitações a horários flexíveis para mães e pais de menores de 12 anos e/ou com deficiências e doenças crónicas são passíveis de sofrer modificações.
Independentemente do que venha a resultar das negociações com sindicatos, associações patronais e no parlamento, é notório que nem uma vaga ideia do impacto destas propostas sobre a natalidade aflorou às cabecinhas pensadoras do executivo.
Desistir da revogação da exigência de apresentação de provas e audição de testemunhas em processo disciplinar de despedimento por justa causa para todas as empresas com menos de 250 trabalhadores consta, igualmente, das concessões que o governo afirma estar disposto a considerar.
Possibilitar o outsourcing a empresas doze meses depois de efectuarem despedimentos colectivos ou extinguirem postos de trabalho representa, por outro lado, uma fragilização da confiança no vínculo laboral.
A precarização laboral, reduzindo a nada a perspectiva de carreira no quadro de uma empresa, está patente no aumento da duração de contratos a termo para três anos, com termo certo, e cinco anos, a termo incerto.
O sentido estratégico, a oportunidade política, desta proposta governamental de revisão das leis laborais é questionável e a contestação das confederações sindicais com convocação de uma greve geral para 11 de Dezembro é forma de pressão negocial legítima ainda que de eficácia provavelmente diminuta.
Em Portugal, contam-se cerca de 7% de trabalhadores sindicalizados, segundo dados do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e isso, só por si, revela a dispersão da conflitualidade e concórdia possíveis hoje em dia entre múltiplas ofertas de força de trabalho e de contratação empresarial.
Lei iníquas e dignidade no trabalho
A discussão que ainda mal começou sobre as propostas governamentais de revisão de leis laborais deixa a claro a falta de tino e visão da ministra Maria Ramalho e de Luís Montenegro.
É uma injustiça a morte
Há que admitir aqui que as coisas que receamos para nós são as mesmas que geram piedade quando acontecem aos outros
O coiso e a coisa ruim
Raul Proença denunciaria o golpe de 28 de Maio como «um verdadeiro acto de alta traição» no panfleto «A Ditadura Militar. História e Análise de um Crime».
A ressureição de José e Blanca
O livro de Cercas, "O Louco de Deus no Fim do Mundo" é a procura da justificação da ressurreição plena dos corpos entre os crentes católicos, mas assenta num equívoco.
O anticomunismo dos outros
Cenas de mau-gosto como equiparar fascismo e comunismo, sistemas ditatoriais aspirando a dominação totalitária, «não se faziam em jantares de esquerda»
Edições do Dia
Boas leituras!