Dividir e conquistar
Começamos a ter um grande problema nas democracias ocidentais. Falta-nos o poder para mudar narrativas construídas pelos nacionalistas e radicais.
Quase uma semana depois das eleições americanas, cientistas, políticos, comentadores e jornalistas tentam perceber como é que raio se vota em Trump novamente. E ao contrário do que parece, a resposta não é assim tão simples. Uns apontam a parte económica (apesar dos Estados Unidos serem dos países que mais crescem no pós-COVID), outros a falta de competência da candidata democrata, assim como a falta de existência de primárias para legitimar a sua opção. A chegada ao centro de Kamala Harris é visto também como um falhanço por parte da esquerda. Vemos ainda, por parte de fervorosos conhecedores da cultura americana, a culpa atribuída ao vírus "Woke", que já dispensa comentários. E podemos até assumir que parte destes argumentos fazem sentido. Mas começamos a ter um grande problema nas democracias ocidentais. Falta-nos o poder para mudar narrativas construídas pelos nacionalistas e radicais.
Oliver Hall esteve a fazer chamadas durante a campanha para convencer republicanos a mudar o seu voto, e num artigo para o The Guardian explica precisamente as dificuldades que teve, e até os motivos da vitória de Trump. E o mais perigoso de todos é a credibilidade. Sim, pode parecer estranho, mas Donald Trump conseguiu imprimir credibilidade ao seu discurso, e as pessoas efectivamente ouviam e confiavam na sua palavra, algo que parece surreal aos olhos de um comum político ocidental. Por mais factos e contra-factos que pudéssemos apresentar, entre fontes como comunicação social ou discursos de Donald Trump, estes republicanos privilegiam sempre as palavras do seu líder, apesar de todos os discursos abertamente racistas, xenófobos, e a sua visão sobre mulheres, democracia e valores. Trump ganha porque consegue ser ouvido. Ao contrário de Harris.
Duas notas: a primeira refere-se à quebra de confiança do político e militância tradicional que acaba por ser substituída por cultos de personalidade, muitas vezes apresentadas como neutrais/despolitizadas e tecnocratas. E para isso contribuem certamente as redes sociais e os seus algoritmos. É inegável o impacto em 2016 das redes sociais, tal como parece distópico o uso da rede social Twitter/X para eleger Trump como presidente dos Estados Unidos da América em 2024. E a táctica usada é sempre a mesma: dividir para conquistar. Fomentar o ódio dentro das comunidades, destruir as suas ligações, aumentar o protagonismo para o que nos separa e fragmentar todo o ecossistema social. Já não se consegue discutir, apenas insultar ou ser insultado. Perde-se confiança nas pessoas que votam diferente de nós. Perde-se confiança no sistema. Nas gerações mais jovens acabamos por ver um afastamento da comunicação social tradicional, em que é substituída muitas vezes por fontes de informação dúbias (nas próprias redes sociais) ou por personalidades no online em vários formatos de podcasts, vídeos explicativos ou apenas a comunicar a sua opinião.
Não foram só os políticos que perderam a sua credibilidade, também os órgãos de comunicação social começaram a perder. Há uma responsabilidade imensurável dos órgãos de comunicação social para vivermos numa Democracia forte e saudável. No entanto, e infelizmente, o que vamos assistindo é a substituição desta responsabilidade por índices económicos e critérios editoriais subjetivos. Em Portugal, temos já uma comunicação social que não tem pudor em ter nos seus comentários pessoas que abertamente utilizam ódio e informações falsas para passar a sua narrativa. Também vemos o espaço desproporcional dado a elementos polémicos, provocações e soundbites. Cada vez menos reportagens e peças jornalisticas, e cada vez mais comentários, opiniões e polarização dos temas em
discussão. E se há alguma coisa que os Estados Unidos nos mostram é que este caminho de divisão, de ódio, só tem um resultado: a derrota da Democracia e dos seus valores.
Para quando uma identidade digital?
A questão passa sempre por garantir que as regras e leis estão a ser também transpostas para o mundo digital. Sabemos bem que a maioria destes comentários feitos fora destas redes sociais trariam consequências legais para estes indivíduos. No entanto, nem sabemos sequer quem os escreve.
Precisamos de novos nomes
São estes os nomes das pessoas que ativamente procuram lucrar com o ódio, a polarização e que atiram areia para cara dos portugueses com falsos problemas. Mas não são só estes nomes que são responsáveis pela deriva antidemocrática, racista e xenófoba que acontece no nosso país.
O seu nome é M-A-M-D-A-N-I
Uma pessoa que vem da população para a política e que passou por todos os problemas que hoje tenta resolver. Um muçulmano apoiado por judeus. Tudo na sua história parece indicar pouca probabilidade de atingir o sucesso, especialmente no contexto financeiro americano, mas cá está ele.
As leis verdes não são leis
Quando as empresas enfrentam dificuldades, sabemos bem qual o investimento que vai ser removido: o do pilar ecológico e social.
O mundo que deixamos para os nossos filhos
Se o tema associado à sustentabilidade das próximas gerações sempre teve como prioridade o aspecto ambiental do planeta, cada vez mais parece ser apenas a ponta do iceberg.
Edições do Dia
Boas leituras!