A propósito de vacinação sazonal e hesitação vacinal: o caso da COVID-19
Hoje sabe-se que a vacinação contra a COVID-19 permite reduzir os casos de doença grave, o número de internamentos hospitalares e o número de óbitos associados, sobretudo nas pessoas que apresentam fatores de risco para uma evolução grave da doença.
No passado dia 3 assinalaram-se os 60 anos do Plano Nacional de Vacinação, justamente uma semana após o arranque da campanha de vacinação sazonal contra a Gripe e COVID-19. Esta campanha inicia-se com o receio, assumido pela DGS, que a hesitação vacinal venha a estar na origem de uma taxa de vacinação contra a COVID-19 inferior à do ano passado.
A maioria das reflexões sobre hesitação vacinal, entendida como o atraso ou a recusa de vacinação, aponta três fatores que a influenciam: a conveniência, a complacência e a confiança. A conveniência inclui, entre outros, os conceitos de acessibilidade e gratuitidade; a complacência refere-se à noção que cada pessoa tem em relação ao risco associado à doença que se pretende prevenir e o benefício da sua prevenção; a confiança inclui a confiança que se tem na vacina e no processo de vacinação, nos profissionais e instituições de saúde envolvidas e nos órgãos de decisão institucionais. Dos três fatores referidos, os que em Portugal (e no mundo ocidental) podem contribuir de forma mais relevante para a hesitação vacinal são os dois últimos: a complacência e a confiança. Importa, na minha perspetiva, perceber os motivos e reforçar os aspetos positivos que podem contribuir para melhorar a taxa de vacinação sazonal, nomeadamente, em relação à COVID-19. Recorrendo a uma ideia regularmente aplicada em diversos contextos, também neste caso parece claro que não será possível, repetindo as mesmas ações, esperarmos resultados diferentes.
Em Portugal, nos anos 2023 e 2024 foram notificados, respetivamente, 86.651 e 31.110 casos, e 2.132 e 1.149 óbitos associados à COVID-19. Em 2025, até 21 de setembro, tinham sido notificados 12.149 casos e 419 óbitos. Estes números estão, seguramente, subestimados, dado que a testagem sistemática de todos os casos suspeitos não está indicada.
Em 2023, último ano em que existem dados comparativos, o número de óbitos associados à COVID-19 foi superior ao número de óbitos por gripe, tuberculose ou VIH, e pela grande maioria dos cancros do tubo digestivo, da mama, ginecológicos, da próstata e do aparelho geniturinário.
Acresce que, em termos do verdadeiro impacto da doença, ainda desconhecemos quantos internamentos ocorreram e durante quanto tempo, qual a idade em que ocorreram os casos diagnosticados e qual o estado vacinal das pessoas com COVID-19, tal como desconhecemos o impacto físico, mental, social e profissional da condição pós-COVID-19 (usualmente denominada “COVID longo”).
E, no entanto, estamos perante uma doença prevenível, cuja gravidade, sobretudo, pode ser evitada, nomeadamente em populações mais vulneráveis, devidamente identificadas nas várias publicações científicas e oficiais.
Reduzir a complacência significa informar as pessoas sobre o potencial impacto da doença na sua vida e na dos seus familiares. Informando que hoje se sabe que a vacinação contra a COVID-19 permite reduzir os casos de doença grave, o número de internamentos hospitalares e o número de óbitos associados, sobretudo nas pessoas que apresentam fatores de risco para uma evolução grave da doença. Sabemos quais são essas pessoas e a indicação que têm para se vacinarem. E, entre outros benefícios, a vacinação poderá permitir ainda a redução do absentismo laboral e os efeitos potenciais da condição pós-COVID-19.
A confiança (ou, neste caso, a sua ausência) é o terceiro elemento que influencia a hesitação vacinal. Pode ser em relação ao processo de vacinação ou à vacina utilizada (à sua eficácia, ao seu perfil de segurança ou a eventuais efeitos adversos), embora a sua utilização em larga escala tenha mostrado ser uma vacina eficaz e segura. Porém, o aparecimento recente de vacinas proteicas contra o SARS-CoV-2 (vírus responsável pela COVID-19), baseadas em tecnologias utilizadas desde há anos com sucesso generalizado (ex.: hepatite B, HPV) pode contribuir para aumentar a confiança no processo de vacinação no seu conjunto, pois permite disponibilizar alternativas de vacinação à população, com a vantagem adicional de apresentarem menor número de efeitos secundários e manterem ou aumentarem mesmo a eficácia da vacinação, através de uma duração mais prolongada da sua proteção.
Este último aspeto é relevante se verificarmos que, em Portugal, a evolução do número de casos e de óbitos durante os anos 2023-2025 apresenta picos de frequência consideráveis nos meses de verão, mais de seis meses após o período de vacinação sazonal. Embora com os dados disponíveis não seja possível determinar com rigor qual o motivo preciso deste agravamento (as variantes em circulação não são substancialmente diferentes), deve-se considerar a hipótese de a vacina administrada em setembro/outubro do ano anterior ter perdido parcialmente a sua capacidade de proteção, nomeadamente nas populações mais vulneráveis de todas, como tem sido referido teoricamente. Neste contexto, deve ser valorizada a capacidade destas novas vacinas assegurarem uma proteção mais duradoura. E, já agora e adicionalmente, considerar protelar o início da época de vacinação, uma vez que, por um lado, a época gripal se inicia habitualmente em dezembro e, por outro, no final de setembro, a curva de casos de covid-19 já é decrescente.
Para esta época de vacinação sazonal, fica então a sugestão de algo diferente, a acrescentar ao muito que se tem feito: conhecer e comunicar melhor o impacto da COVID-19, particularmente sobre as populações em maior risco de doença grave; considerar a importância das novas vacinas contra o SARS-CoV-2, como um contributo para a confiança dos cidadãos no processo de vacinação sazonal e para a melhoria da saúde das populações, sobretudo as mais vulneráveis. Para termos resultados diferentes… e melhores.
A propósito de vacinação sazonal e hesitação vacinal: o caso da COVID-19
Hoje sabe-se que a vacinação contra a COVID-19 permite reduzir os casos de doença grave, o número de internamentos hospitalares e o número de óbitos associados, sobretudo nas pessoas que apresentam fatores de risco para uma evolução grave da doença.
Pergunto-me — não conhecendo eu o referido inquérito arquivado que visaria um juiz — como é que certas pessoas e associações aparentam possuir tanto conhecimento sobre o mesmo e demonstram tamanha convicção nas afirmações que proferem.
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Hoje sabe-se que a vacinação contra a COVID-19 permite reduzir os casos de doença grave, o número de internamentos hospitalares e o número de óbitos associados, sobretudo nas pessoas que apresentam fatores de risco para uma evolução grave da doença.
Com eleições de quatro em quatro anos, ficamos com uma cidade desleixada durante três anos e onze meses e, por isso, é claramente já tempo de dar uma volta ao calendário eleitoral. Uma eleição autárquica por mês, já! É o que pedem todos os cidadãos!