O tamanho dos sonhos
Sonhar em grande é preciso. E, responder à pergunta tantas vezes feita em criança é uma oportunidade de reafirmar a convicção do que queremos contribuir para a humanidade. Muito mais do que apenas uma profissão, a marca positiva a deixar na vida coletiva, que inspire outros a alcançar novos e maiores sonhos.
A revistaTimenomeou Heman Bekele como "Criança do Ano 2024" pelo desenvolvimento de um sabonete capaz de estimular o sistema imunitário e combater células cancerígenas. O sabonete é símbolo de esperança, onde a potencial cura do cancro da pele está acessível a todos. A originalidade remonta às raízes do jovem, agora a viver nos Estados Unidos, que se lembra de ver, durante a infância, na Etiópia, os trabalhadores debaixo do sol tórrido.
Este exemplo fascinante fez-me recordar o discurso de Ellen Johnson-Sirleaf, enquanto Presidente da Libéria e alumni de Harvard, aos alunos que estavam a terminar o curso, em 2011. A sabedoria das suas palavras merece ser partilhada com qualquer pessoa que queira fazer o mundo avançar ou salvar a vida de outros. Johnson-Sirleaf, também galardoada com o Nobel da Paz, dizia que se os sonhos não nos assustarem, é porque não são grandes o suficiente e que o tamanho dos sonhos deve sempre exceder a capacidade atual de alcançá-los. Ora, se somos efetivamente do tamanho dos nossos sonhos, estamos a ser demasiado pequeninos? E, se a grandiosidade do futuro for do tamanho dos nossos sonhos, estamos otimistas em relação ao futuro?
Quando somos crianças perguntam-nos o que queremos ser quando formos grandes. Bailarinas, atrizes, jogadores de futebol, professores ou médicos são respostas ambiciosas aos olhos de uma criança. Os sonhos são a expressão da alma com que nascemos e de tudo o que acontece depois – os contextos, as experiências, as pessoas – que refletem o que valorizamos, como vemos o nosso papel na sociedade, na descoberta de quem somos e do que podemos ser. Há uma relação próxima entre o que somos e procuramos ser e o processo de aprendizagem para lá chegar. O desenvolvimento é condicionado, mas também estimulado pelo meio em que nos inserimos, vivemos, crescemos, estudamos e trabalhamos. Quanto mais interessante e estimulante, mais capacidade terá de emergir o talento e as melhores capacidades de cada um. Cada pessoa é o somatório das respostas que deu ao longo da vida às perguntas que foram formuladas e das interrogações que fez em cada momento.
À medida que vivemos mais, os sonhos parecem ser reprimidos, porque nos enchem de complexos, frustrações e sentimentos de inferioridade que quase nos mingam. Johnson-Sirleaf disse aos jovens de Harvard que se começassem com um sonho pequeno, corriam o risco de não restar muito desse sonho porque, pelo caminho, a vida desafia as ambições, pelas exigências e barreiras que coloca à sua realização. Por isso, o essencial é que nunca, em circunstância alguma, abdiquemos do tamanho dos sonhos. Afinal, sonhar em grande é preciso. E, responder à pergunta tantas vezes feita em criança é uma oportunidade de reafirmar a convicção do que queremos contribuir para a humanidade. Muito mais do que apenas uma profissão, a marca positiva a deixar na vida coletiva, que inspire outros a alcançar novos e maiores sonhos.
Ainda assim, sonhar e concretizar um sonho são coisas bem diferentes. Para sonhar são precisos estímulos, referências e a mente disponível para receber esboços. Para transformar os sonhos em realidade é necessária uma mistura de tenacidade e compromisso. O talento nacional é imenso. Portugal deve sonhar conquistar Prémios Nobel da Literatura, Física ou Química, e criar condições ideais para que os sonhos possam florescer. Nada melhor do que um sonho para sentir o amanhã e conquistar o futuro. Para que o futuro seja o resultado das descobertas, do saber e do sentir.
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